quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

OS PRIMEIROS TEMPOS DO ORBE TERRESTRE Que força sobre-humana pôde manter o equilíbrio da nebulosa terrestre, destacada do núcleo central do sistema, conferindo-lhe um conjunto de leis matemáticas, dentro das quais se iam manifestar todos os fenômenos inteligentes e harmônicos de sua vida, por milênios de milênios? Distando do Sol cerca de 149.600.000 quilômetros e deslocando-se no espaço com a velocidade diária de 2.500.000 quilômetros, em torno do grande astro do dia, imaginemos a sua composição nos primeiros tempos de existência, como planeta. Laboratório de matérias ignescentes, o conflito das forças telúricas e das energias físico-químicas opera as grandiosas construções do teatro da vida, no imenso cadinho onde a temperatura se eleva, por vezes, a 2.000 graus de calor, como se a matéria colocada num forno, incandescente, estivesse sendo submetida aos mais diversos ensaios, para examinar-se a sua qualidade e possibilidades na edificação da nova escola dos seres. As descargas elétricas, em proporções jamais vistas da Humanidade, despertam estranhas comoções no grande organismo planetário, cuja formação se processa nas oficinas do Infinito.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Não é nosso propósito trazer à consideração dos estudiosos uma nova teoria da formação do mundo. A Ciência de todos os séculos está cheia de apóstolos e missionários. Todos eles foram inspirados ao seu tempo, refletindo a claridade das Alturas, que as experiências do Infinito lhes imprimiram na memória espiritual, e exteriorizando os defeitos e concepções da época em que viveram, na feição humana de sua personalidade. Na sua condição de operários do progresso universal, foram portadores de revelações gradativas, no domínio dos conhecimentos superiores da Humanidade. Inspirados de Deus nos penosos esforços da verdadeira civilização, as suas idéias e trabalhos merecem o respeito de todas as gerações da Terra, ainda que as novas expressões evolutivas do plano cultural das sociedades mundanas tenham sido obrigadas a proscrever as suas teorias e antigas fórmulas. Lembrando-nos, porém, mais detidamente, de quantos souberam receber a intuição da realidade nas perquirições do Infinito, busquemos recordar o globo terráqueo nos seus primeiros dias.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

"A Caminho da Luz - História da Civilização à Luz do Espiritismo E Espíritas Ditada pelo Espírito EMMANUEL de Chico Xavier". A Gênese planetária A COMUNIDADE DOS ESPÍRITOS PUROS Rezam as tradições do mundo espiritual que na direção de todos os fenômenos, do nosso sistema, existe uma Comunidade de Espíritos Puros e Eleitos pelo Senhor Supremo do Universo, em cujas mãos se conservamas rédeas diretoras da vida de todas as coletividades planetárias. Essa Comunidade de seres angélicos e perfeitos, da qual é Jesus um dos membros divinos, ao que nos foi dado saber, apenas já se reuniu, nas proximidades da Terra, para a solução de problemas decisivos da organização e da direção do nosso planeta, por duas vezes no curso dos milênios conhecidos. A primeira, verificou-se quando o orbe terrestre se desprendia da nebulosa solar, a fim de que se lançassem, no Tempo e no Espaço, as balizas do nosso sistema cosmogônico e os pródromos da vida na matéria em ignição, do planeta, e a segunda, quando se decidia a vinda do Senhor à face da Terra, trazendo à família humana a lição imortal do seu Evangelho de amor e redenção.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

DIANTE DO CARMA Filhos, não agraveis o próprio carma com as vossas rações intempestivas diante do sofrimento. Carregai, com resignação e coragem, o fardo que vos pesa, não reagindo com desespero quando a prova que faceais fuja ao vosso controle. Ninguém pode evitar as conseqüências de se viver num mundo de acerbas dificuldades espirituais, mas a vossa postura perante os acontecimentos que naturalmente se desencadeiam pode, sem dúvida, minimizá-los em seus efeitos. Anulai, com a vossa atitude de serenidade, o drástico das provações que, com base no vosso descontrole emocional, podem se complicar por tempo indefinido, exigindo de vós maior cota de lágrimas para que se equacionem. Dentro da situação de relativo desconforto em que vos encontreis, refleti que, em verdade, se a Lei Divina se vos aplicasse com todo o vigor, estaríeis, por justiça, em quadros de padecimentos inimagináveis. O problema cármico do homem, por ação da Infinita Misericórdia, está sempre aquém de suas reais necessidades de reajuste. Seja, assim, qual for o obstáculo que estejais enfrentando, em meio às surpresas desagradáveis que vos acometem em vosso relacionamento uns com os outros, predisponde-vos ao perdão e não enveredeis por caminhos que não vos conduzam à compreensão e à plena aceitação dos reveses. Sob os auspícios da fé, qualquer carma se atenua. A dor, dependendo da opção que façais, tanto vos pode impulsionar o espírito no rumo de incontida ascensão, quanto endereçá-lo às profundezas abissais do infortúnio. Filhos, tomai consciência de vossas limitações e submetei-vos à prova, sem, contudo, valorizá-la em demasia. Na razão de vossas possibilidades, esquecei-a nas tarefas de amor aos semelhantes, porque quem concede excessivo tempo à dor sofre mais do que lhe impõe o próprio sofrimento. As sementes do bem constituem-se em grãos de crescimento imediato, ocupando, em vossa lavoura íntima, a gleba onde, até então, reinavam, soberanos, apenas os acúleos do mal.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

ESQUECIMENTO DO PASSADO Filhos, o esquecimento do passado, nas experiências infelizes que vivenciastes, é que vos torna viável o progresso espiritual. Quem não olvidasse o mal de que tenha sido vítima ou verdugo, estacionaria indefinidamente na revolta e no ódio, na amargura e na falta de indulgência. A amnésia temporária, com relação ao que fostes e ao que fizestes no passado, de certa forma vos enseja o crescimento íntimo num tempo relativamente mais curto do que levaríeis para concretizá-lo, caso tivésseis que conviver com as lembranças negativas que a Lei vos manda esquecer. Assim sendo, não vasculheis os arquivos da mente, com o propósito de trazer ao presente o que deve permanecer sepultado no pretérito. Preocupai-vos com a construção do futuro, estudando as características de vossa personalidade, para melhor avaliação do caminho percorrido, valendo-vos tão-somente das tendências e dos hábitos que revelais em vossa existência de agora. Em contato com os outros, notadamente com aqueles de vossa convivência mais estreita, os vossos reais valores vêm à tona, possibilitando-vos a identificação clara dos pontos vulneráveis da personalidade, sobre as quais devereis concentrar os vossos esforços de corrigenda. Os companheiros com os quais vos compromissastes mais seriamente acionam em vós os mecanismos psicológicos a fornecer-vos exata noção dos vossos desacertos de antanho, sem que, para tanto, tenhais necessidade de provocar o despertar de vossas reminiscências. Na vivência espírita do Evangelho, a chamada terapia de vidas passadas acontece naturalmente, sem que se vos torne indispensável a revelação, em detalhes, do que vos precipitou a queda. Quando um quadro infeccioso se instala no corpo, o médico não espera que se lhe detecte o órgão de origem, para combatê-lo através da prescrição de antibióticos. A prática cotidiana do Bem se vos assemelha, para a consciência enferma, a antibiótico de última geração e de largo espectro que, embora sem correto diagnóstico do vosso quadro clínico, combate com eficiência a causa de vossos males.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

MAIS PERTO DA DOR Filhos, tanto quanto vos seja possível, procurai estar mais perto da dor dos semelhantes, para que não ignoreis a vossa própria realidade. Convivei com os que sofrem para que não olvideis as vossas fragilidades... O sofrimento que constatamos nos outros e ao qual todos somos vulneráveis nos imuniza contra a perturbação em nós mesmos. Os que se consideram indenes à dor expõem-se com extrema facilidade aos atavios da ilusão, às decepções e às amarguras advindas de quem cria para si um mundo imaginário. As enfermidades mentais, em sua maioria, são oriundas de interpretações equivocadas do homem a respeito dos acontecimentos que protagoniza no cotidiano. A dor do próximo que procurais amenizar vos introjeta e destaca aos vossos olhos as bênçãos que comumente desconsiderais na existência. Quantos não perderam a capacidade de avaliar a extensão das dádivas com que têm sido aquinhoados pelo Criador? A quem se isola no universo das próprias lágrimas falta o necessário discernimento no que se refere à constatação dos dons com que tem sido agraciado pelas Leis da Vida. Filhos, procurai igualmente ter olhos de ver a dor dos que padecem as conseqüências do que não souberam valorizar no que lhes foi concedido; evitai cometer os mesmos erros perpretados pêlos ingratos e pêlos descrentes... Todos, na Terra, têm o que lhes é imprescindível à felicidade a que fazem jus. Quem não sabe ser feliz com o que tem também não haverá de sê-lo com o que ambiciona ter. Fugi de vos contemplar excessivamente no espelho... Não transfirais para a Lei Divina a responsabilidade que é vossa na construção do destino. Quem evita o contato com a dor alheia faz da sua, tantas vezes insignificante, uma dor superlativa, sobre a qual se concentra e passa a viver, exigindo, com os seus ais, que as pessoas de sua convivência orbitem ao seu redor.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

EM PRIMEIRO LUGAR Filhos, o Evangelho é o legado de amor do Divino Mestre para a Humanidade. Vivenciai-o e sereis felizes. O problema do homem não é com Deus, mas, sim, com o próximo. Não é pela falta de fé que o homem tem fracassado; aliás, desde os primórdios, ele tem procurado reverenciar o Criador, na exteriorização de sua religiosidade natural... A questão básica da felicidade humana está relacionada à vivência do amor - o sentimento que supera todo rótulo de crença e que transcende qualquer indagação de natureza filosófica. Quem aplica o Evangelho à sua própria vida demonstra um conhecimento prático das Leis em que a existência se estrutura, intuindo o que lhe é essencial na compreensão da Verdade. Quando o homem aprender a se relacionar com o semelhante, ele terá resolvido, através do exercício do amor, todos os problemas de origem filosófica que o aturdem há séculos sem data. Revivendo o Evangelho, o Espiritismo conclama os seus adeptos a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmos. Todos os artigos de fé da Doutrina, por mais arrojados intelectualmente, não teriam sentido algum sem que o amor lhes constituísse o ponto central. A fé raciocinada pretende, sobretudo, a renovação do homem. O conhecimento da Reencarnação, da Lei de Causa e Efeito, da Mediunidade e da Vida em suas múltiplas nuances, objetivam única e tão-somente tornar a criatura mais lúcida quanto ao próprio destino. A rigor, em sua atual conjuntura evolutiva, o homem tem reencarnado mais para aprender a amar do que para saber o que ainda ignora. Filhos, Doutrina Espírita sem Evangelho seria uma lâmpada sem luminosidade. Não vos esqueçais do que nos disse o Mestre, quando nos recomendou que, em primeiro lugar, buscássemos o Reino de Deus e a sua Justiça, afirmando que as demais coisas nos seriam dadas por acréscimo.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

NUNCA ACREDITEIS Filhos, nunca acrediteis que a Verdade vos pertença de modo absoluto; que a vossa interpretação dos fatos que sucedem aos outros não seja equivocada; que a razão sempre permaneça do vosso lado; que tendes mais direitos a reclamar que deveres a cumprir; que viveis isentos das tentações que acometem a tantos; que sois invulneráveis ao erro; que mereceis os privilégios que desfrutais na existência; que a Lei Divina cuida de vossa felicidade, em detrimento da felicidade alheia; Daí a necessidade de se renascer sobre a Terra sucessivas vezes, estabelecendo vínculos cada vez mais estreitos com os semelhantes; se o homem se destituísse dos laços afetivos, o sentimento de indiferença é que haveria de norteá-lo na Vida, impedindo-lhe o crescimento... A cartilha da dor encerra para vós outras infinitas lições, advindas do vosso relacionamento com aqueles que amais de maneira extremada e que ainda não vos correspondem ao afeto. O filho-problema, o cônjuge intolerante e o amigo infiel fazem parte do farto material pedagógico com que a Lei sempre vos instruiu, no que mais tendes necessidade de saber, em termos de felicidade real. Todas as experiências que os espíritos vivenciam em contato uns com os outros, principalmente quando decidem tomar o caminho da reencarnação, objetivam pulverizar-lhes as ilusões que se alicerçam nos valores mutáveis da experiência física. Nada, do ponto de vista espiritual, vos edifica tanto quanto as decepções, as que se vos torna dispensável a vigilância cotidiana; que fazeis mais do que efetivamente tendes a obrigação de fazer... Filhos, nunca acrediteis ser o que ainda vos exigirá derramar muito suor para virdes a ser. Nunca acrediteis que novas oportunidades de reajuste não vos venham a ser concedidas; que, desta vez, não lograreis vos levantar do abismo a que vos arrojastes voluntariamente; que, para vós, não exista mais nenhuma esperança possível; que estais condenados ao fracasso e que renascestes predestinados à dor; que a paz perdida jamais se recupera; que o mal que cometestes não possa ser reparado pelo bem... E nunca, sobretudo, acrediteis que o quanto tendes realizado seja o suficiente para que vos acomodeis na inércia, cruzando os braços diante do que ainda vos cabe realizar na construção do Reino Divino sobre a face da Terra!

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011


VÍNCULOS AFETIVOS

Filhos, através dos vossos vínculos afetivos é que tendes, no mundo, a oportunidade de vos aproximar dos vossos desafetos do passado, que renascem no corpo, em obediência aos compromissos assumidos convosco.
Os elos da consangüinidade vos possibilitam experiências em comum, nas quais vos tornais em instrumentos de aprendizado mútuo.
A convivência no corpo vos enseja o desenvolvimento da paciência e do perdão, da compreensão e da renúncia, virtudes que, paulatinamente, vos ensinam o amor incondicional por todas as criaturas: amarguras, os traumas, as lágrimas que verteis pelo amor não correspondido, as aflições do sentimento de posse...
Se não se habitua a renunciar, a ceder de si mesmo, a se sacrificar pelo próximo, a despojar-se de ambições, enfim, a não esperar que a Vida gire à sua volta, o homem sofre -inevitavelmente, sofre.
Filhos, amai sem cogitar de serdes amados. Sobretudo, esforçai-vos por amar aqueles que nunca foram verdadeiramente amados.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011


OS FALSOS PROFETAS

Filhos, acautelai-vos contra os falsos profetas que são de todos os tempos.
Na atualidade, muitos deles despontam na seara da própria Doutrina, à feição de joio no meio do trigo, cuidando única e tão-somente dos interesses que lhes dizem respeito.
São eles os médiuns enganadores que trabalham em causa própria, os oradores e articulistas que têm mais brilho na palavra que atitudes corretas, os dirigentes que impõem as suas idéias personalistas ao Movimento...
Sabereis identificá-los pela sua falta de bom-senso e pelo amor que têm mais a si do que à Causa.
Os falsos profetas nunca são capazes de sacrificar-se pelo ideal e, por este motivo, acabam sempre revelando os seus mais escusos propósitos na militância doutrinária.
Falam de caridade, mas não logram despojamento para praticá-la; enaltecem a excelência do perdão, mas se melindram com extrema facilidade; referem-se à importância do serviço, mas não tomam eles mesmos a iniciativa de servir...
Falta-lhes uma empatia espiritual mais profunda com a fé e, conseqüentemente, não comunicam sinceridade aos homens de discernimento.
Filhos, não enveredeis pêlos sinuosos caminhos da exploração do sentimento alheio; que ninguém se arroje ao despenhadeiro da descrença por vossa culpa...
Aos falsos profetas, encarnados ou desencarnados, estarão reservadas as mais duras penas pêlos equívocos cometidos contra "o Espírito Santo", ou seja, por inocularem o veneno da desconfiança nas mentes invigilantes que, por longo tempo, haverão de se mostrar refratárias à luz da Verdade.
Sede autênticos na fé e não comercializeis com os dons da mediunidade.
Jesus, em um de seus raros momentos de exasperação, não poupou os vendilhões do templo.
A Lei Divina agirá com rigor contra os que distorcerem a sua interpretação, junto àqueles que ainda não aprenderam a pensar com a necessária independência intelectual.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011


DISCIPLINAI O ESPÍRITO

Filhos, cogitando das coisas maiores, não vos descureis daquelas que considerais insignificantes.
A grande árvore se origina de minúscula semente.
O mais alto edifício não se levanta sem o concurso de anônimas pedras de alicerce.
O rio caudaloso é a somatória de humildes filetes d'água.
Nada, quando nasce, surge em sua forma definitiva.
Tudo parte de um pequeno ponto e, através do tempo, ocupa o espaço que lhe está determinado pelas leis do Universo.
Sedimentai-vos na experiência que vos habilita para compromissos de maior envergadura.
Disciplinai o espírito nas tarefas que, quase sempre, são desprezadas por quantos lhes desconhecem o valor no fortalecimento da vontade.
Quando alguém se encontra apto para cumprir obrigações de ordem mais elevada, a própria Vida se encarrega de lhas confiar através das circunstâncias que o requisitam.
Quando o homem não consegue ser o que é, onde está, inútil que ele tente ser mais, onde quer que esteja.
Quem não prova fidelidade nos encargos menores não se desincumbi com êxito daqueles cuja importância exige maior persistência e noção de responsabilidade.
Filhos, as atividades humildes da casa espírita são a vossa garantia de paz e equilíbrio íntimo. Dentro dela, não aspireis a nada além do que seja servir, sem que vos entregueis às discussões que costumam inutilizar as vossas oportunidades de ascese espiritual.
Silenciai os vossos rancores e considerai-vos os maiores necessitados,
agradecendo ao Senhor a bênção do serviço espírita em que vos refugiais da tentação.
Demorai-vos mais longo tempo nas tarefas de assistência, antes que cogiteis daquelas que vos tornam alvo preferencial dos desafetos da Doutrina.
E orai pêlos companheiros de ideal que, na linha de frente do combate, tantas vezes tombam, alvejados pêlos dardos ensandecidos das trevas.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011


O GRANDE SALTO

Filhos, inevitável o progresso de todas as coisas em busca da perfeição. Nada será capaz de deter o avanço vertiginoso da Vida... Os desajustes são imprescindíveis à renovação e à retomada do crescimento para a Luz. Avançar sempre - eis o lema que norteia a caminhada de tudo que existe, no anseio de ser mais. Inevitável, pois, que Ciência, Filosofia e Religião se unifiquem com o mesmo objetivo -o conhecimento pleno da Verdade. Está prestes o momento em que a Ciência efetuará o grande salto, transpondo os limites do túmulo e perscrutando a Vida além da matéria. Então, muitas das indagações humanas obterão respostas, com enigmas seculares sendo solucionados e dando origem a novos e mais amplos questionamentos. A cada passo na senda do progresso, o homem constatará a necessidade de voltar-se para si - porquanto o seu universo íntimo é mais infinito que o Universo, para o qual se volta exteriormente, há milênios. Sem os preconceitos da Ciência e o fanatismo da Religião, o homem, com o auxílio da Filosofia, passará a cogitar da própria transcendência, concentrando esforços no seu despertar espiritual. Filhos, é inútil que as sombras da noite tentem se opor à claridade do dia... Quando a vida na Terra nos pareça presa de indefinido marasmo, eis que o Senhor nos envia os seus propostos divinos, que se corporificam no Planeta, para darem novo impulso ao progresso em todas as áreas do saber. A força incoercível das Leis, a pouco e pouco, faz com que todas as coisas e todos os seres se entrelacem, na interdependência que os une. Não vos tranqueis intelectualmente e jamais pronuncieis a palavra "impossível", com referência às variadas e infinitas possibilidades de descoberta do homem, por fora e por dentro de si. O dicionário humano é destituído de terminologia adequada a fim de descrever o que vos reserva a existência humana para o futuro, sob os auspícios da Misericórdia de Deus.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011


INSTRUMENTOS DA OBSESSÃO

Filhos, não vos esqueçais de que, sem vigilância, vós mesmos podereis vos transformar em instrumentos de perturbação espiritual uns para os outros. Os espíritos obsessores, interessados em minar-vos a resistência moral, além de ssediar-vos diretamente, assediam-vos indiretamente através daqueles que não supõem estar lhes servindo de intermediários para vos subtrair a paz. A obsessão, quase sempre, é construída sobre o medo e sobre a falta de confiança que a sua vítima demonstra com referência à bondade de Deus, que não relega ninguém ao abandono. Os vossos adversários invisíveis se esmeram na técnica de vos induzir ao desequilíbrio, chegando, inclusive, a vos suscitar idéias renitentes de doenças que vos atemorizam e vos implantando na mente pensamentos nocivos que passais a acalentar diuturnamente. Inspirando pessoas que convivem convosco, algumas mais íntimas, outras não, colocam-lhes palavras-chaves nos lábios -, palavras que se lhes transformam em pontos de sintonia mental, para a perseguição sem trégua com que os vossos desafetos do pretérito pretendem vos levar à loucura ou a atitudes de extremo desespero. Quando vos observeis padecendo o assédio sem pausa de idéias que repercutam negativamente no vosso organismo físico, constrangendo-vos à insônia e à inapetência, à irritabilidade e à apatia, considerai a hipótese de obsessão por causa determinante do, processo que se instala. Procurai no trabalho o vosso refúgio e não cedais espaço mental para as sugestões infelizes que tendem a vos ocupar o espaço íntimo. Filhos, orai com redobrado fervor e não vos afasteis da serenidade, mas esforçai-vos para não perderdes o autodomínio. Atentai para as palavras de ânimo e de coragem que, por outro lado, ouvirdes da boca daqueles que o Senhor inspira a fim de vos fortalecer na caminhada. Não ignoreis os instrumentos do Bem que, no corpo e fora dele, permanecem lutando convosco para que alcanceis definitiva vitória sobre os vossos próprios desajustes.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011


CARIDADE NA CARIDADE

Filhos, os vossos impulsos negativos costumam vos assaltar, mesmo quando vos encontrais envolvidos nas tarefas de amor ao próximo.
E o melindre que vos suscita um companheiro de ideal com o qual ainda não vos afinizais completamente; é a vossa equivocada postura de superioridade que vos é incentivada pela vossa transitória condição de doadores; é a ilusão a que vos inclinam os bens amoedados que fostes chamados a administrar com parcimônia; é a injustiça que vos assoma à personalidade, através das decisões arbitrárias que tomais em relação ao que se deve dividir com os necessitados; é a palavra áspera com que vos achais no direito de vos dirigir aos que convosco cooperam, em escala menor; é a indiferença ante a opinião de um vosso anônimo colaborador que insensatamente considerais sem lucidez bastante para externar o seu ponto de vista; é a censura descaridosa que efetuais contra os que não se talham pelo vosso figurino moral; é a movimentação inútil que empreendeis para afastar determinado integrante do grupo que não vos corresponde aos anseios...
Não é porque vos encontrais fazendo o bem aos outros que o mal, ainda subsistente em vós, vos deixa de disputar a alma.
As trevas não desistem facilmente.
Não há quem possa se considerar suficientemente forte para menoscabar a tentação.
Filhos, cuidai para que os vossos impulsos negativos não vos comprometam a alegria oriunda da prática do Bem.
Sede, pois, generosos e fraternos, principalmente com aqueles que estejam mais próximos e que não tenham despendido tanto quanto vós.
A caridade não atropela ninguém.
Pondo um pouco mais de caridade na caridade que praticais, não consentireis que a luz que se vos projete da alma o faça com tantos traços de sombra.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011


OBSESSÃO

Filhos, não olvideis que os vossos afetos invisíveis do pretérito procuram interferir negativamente em vossos justos anseios espirituais do presente.
De todas as formas, eles buscarão se insinuar em vossos caminhos, impedindo a vossa desvinculação mental com o passado. Pela afinidade natural que convosco estabeleceram em experiências pregressas, lograrão fácil acesso ao vosso psiquismo, articulando aos vossos ouvidos inaudíveis palavras de desalento.
Praticamente sem tréguas, insistirão convosco na descrença, armando-vos o espírito contra os companheiros que vos têm concitado à renovação. Levantarão em vós suspeitas infundadas a respeito daqueles que podem vos influenciar para o bem.
Não raro, prepararão instrumentos para vossa queda no rol de vossas
afeições mais íntimas. Nos lábios dos que tenham alguma ascendência sobre vós, colocarão palavras que vos induzirão a reconsiderar atitudes e decisões no campo da fé. Os irmãos consangüíneos do Mestre o tinham à conta de homem fora do seu juízo perfeito... Quantos se fizeram cristãos nos primeiros tempos do Evangelho começavam a ser chamados ao testemunho no seio da própria família.
Os espíritos que lutam contra os propósitos de espiritualização das criaturas envidam esforços no sentido de que o seguidor de Jesus na Doutrina Espírita vincule a causa dos problemas materiais que enfrenta à sua nova opção de fé. Por este motivo, os espíritas sempre facearão acirrada perseguição material por parte dos opositores da Terceira Revelação. Além de sustentarem lutas cármicas pessoais, defrontar-se-ão com os adversários da Causa que abraçaram. No entanto o amparo espiritual não haverá de faltar a quem tome a decisão de renunciar às facilidades transitórias. Filhos, perseverai na fé e triunfareis!

quarta-feira, 23 de novembro de 2011


CENTRO ESPÍRITA

Filhos, que o centro espírita - célula viva do Cristianismo em suas origens - vos
mereça o melhor carinho e consideração. Sempre que possível, integrai a equipe de companheiros que permanece lutando para que o templo espírita cristão tenha sempre as portas descerradas à comunidade.

Não vos isoleis uns dos outros, fugindo à convivência salutar que vos preserva o
discernimento e vos combate o personalismo. Em contato com os irmãos de ideal, as vossas idéias se reciclarão e a indispensável permuta de experiências vos será uma permanente fonte de inspiração para o trabalho. Os cristãos dos primeiros tempos do Evangelho na face do mundo, não atuavam isoladamente. A auto-suficiência espiritual carece de ser combatida com determinação.

Se considerais que nada tendes a aprender com os companheiros, não olvideis a vossa obrigação de ensinar. Quanto puderdes, no entanto, preocupai-vos em não vos aterdes única e simplesmente à teoria ou à disputa de cargos de liderança. Participai diretamente das tarefas mais humildes da casa espírita, vacinando o espírito contra o fascínio de si mesmo.

O Mestre lavou os pés aos apóstolos... Nas instituições meramente humanas, manda mais quem tenha mais dinheiro e poder, todavia, naquelas que transcendem os interesses dos homens, quem mais pode é quem mais serve. Filhos, adequai o centro espírita para que ele cumpra, na Terra, a sua função de educandário das almas. Dentro dele, consagrai um tempo sempre mais dilatado ao estudo da Doutrina, evitando que se transforme em foco de mediunismo e perturbação.

Que, em suas atividades, o grupo espírita dos dias atuais procure se assemelhar à
casa dos apóstolos, em Jerusalém, abençoada oficina de trabalho, que tanto se
preocupava em ser pão para o corpo quanto em ser luz para o espírito!

terça-feira, 22 de novembro de 2011


MEDIUNIDADE

Filhos, a mediunidade é o pábulo espiritual que vos sustenta a crença na imortalidade. Haja o que houver, não vos afasteis dos vossos deveres mediúnicos, procurando o próprio fortalecimento e o de vossos irmãos.

O intercâmbio com o Mundo Espiritual foi referendado pelo Cristo, que, transfigurando-se no Tabor, manteve estreito contacto com os espíritos de
Moisés e Elias.

Mais tarde, Ele mesmo, por diversas vezes, apareceria redivivo aos olhos dos
companheiros amados, consentindo, inclusive, que um deles tocasse em suas feridas, para certificar-se da realidade da vida além da morte. As alegrias que vos serão advindas do cumprimento de vossas obrigações na mediunidade compensarão todas as vossas dores e sacrifícios.

Disciplinai-vos. Crescei em espírito e vereis as vossas faculdades medianímicas se
ampliarem em suas possibilidades. Todo caminho de ascensão é repleto de obstáculos. Não queirais transpô-los à pressa, mas estai convictos de que o êxito em qualquer empreendimento demanda tempo de preparação.

Não duvideis hora alguma da ação dos desencarnados sobre vós... Devotai-vos à
prática do bem ao semelhantes, criando um ambiente propício para a fé. A ociosidade conduz ao cepticismo. A indiferença ante a dor de quem chora relega ao descaso os assuntos pertinentes à alma.

Tende a fé em vós mesmos! Não vacileis na tarefa que vos tenha sido confiada em vosso singelo círculo de atividades doutrinárias. Elevai-vos mentalmente e equilibrai os vossos sentimentos para transmitirdes com a fidelidade possível os recados do Mais Além. Sobretudo, preocupai-vos em serdes intérpretes das boas obras...

Filhos, o exercício da mediunidade com Jesus não exime o medianeiro de suas provas. Vertei o amaro pranto de que vos seja causa a ingratidão dos homens, preferindo as lágrimas derramadas no cumprimento do dever do que a satisfação ilusória de quem deixa de fazer o que deve pelo que quer.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011


SER ESPÍRITA

Filhos, ser espírita é oportunidade de vivenciar o Evangelho em espírito e verdade. O seguidor da Doutrina é alguém que caminha sobre o mundo, mais consciente de seus erros que de seus acertos. Por este motivo – pela impossibilidade de conformar os interesses do homem velho com os anseios do homem novo, ele quase sempre deduz que professar a fé espírita não é tarefa fácil. Toda mudança de hábito, principalmente daquele que lhe esteja mais arraigado, impõe à criatura encarnada sacrifícios inomináveis.

O rompimento com o "eu" é um parto laborioso, em que, não raro, sem experimentar inúmeras recaídas, o espírito não vem à luz... O importante é que não vos deixeis desalentar. Recordai que, para o trabalho inicial do Evangelho, Jesus requisitou o concurso de doze homens e não de doze anjos.

Talvez o problema maior para os companheiros de ideal que se permitem desanimar, ante as fragilidades morais que evidenciam, seja o fato de suporem ser o que ainda não o são. Sem dúvida, os que vivem ignorando as próprias necessidades, aparentemente vivem em maior serenidade de quantos delas já tomaram consciência; não olvideis, contudo, que a aspiração do melhor é intrínseca à sua natureza - o homem sempre há de querer ser mais...

Na condição, pois, de esclarecidos seguidores da Doutrina Espírita, nunca espereis vos acomodar, desfrutando da paz ilusória dos que não se aprofundam no conhecimento da Verdade que liberta. Onde estiverdes, estareis sempre inquietos pelo amanhã.

A aflição que Jesus bem-aventurou, é aquela que experimenta quem se põe a caminho e não descansa antes de concluir a jornada. Filhos, apesar dos percalços externos e de vossos conflitos íntimos, aceitai no Espiritismo a vossa melhor chance de redenção espiritual, e isto desde o começo de vossas experiências reencarnatórias. Valorizai o ensejo bendito e não culpeis a Doutrina pelas vossas mazelas.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011


PROSPERIDADE

Filhos, as religiões que verdadeiramente não cogitam do Reino do Céu vos acenarão com a promessa da prosperidade material sobre a Terra. Não permuteis o que é eterno pelo que é transitório; não façais como Esaú, que, por um prato de lentilhas, abriu mão do seu direito de primogênito para Jacó, seu irmão...

A exemplo de Maria, irmã de Lázaro e Marta, permanecei com a boa parte. Não vos esqueçais do jovem rico, cujo anseio de elevação espiritual não ia ao ponto de
levá-lo ao desprendimento dos bens materiais. Quase sempre, as aspirações de ordem superior do homem se conflitam com os interesses subalternos da sociedade em que vive. Quantos os que, pressionados por carências materiais imaginárias, renunciam à fé espírita, aceitando outras interpretações para as palavras do Senhor?

Quantos os que renegam a crença na reencarnação pelo motivo de terem se exaurido na luta pela própria sublimação? O Espiritismo não efetua aos seus adeptos quaisquer exigências, todavia quem toma consciência de seus postulados sente-se naturalmente constrangido a ceder de si mesmo, cada vez mais.

É a lucidez espiritual que a Doutrina faculta aos seus seguidores o que os induz à
disciplina austera e ao trabalho incansável, ao desapego dos bens perecíveis e ao
sacrifício pelo ideal.

Filhos, não contemporizeis com a ilusão. Ninguém ascenderá aos Planos Mais Altos, preso aos interesses rasteiros do mundo. O Senhor não quer a necessidade, a penúria, a fome, a miséria... Não vos esqueçais, no entanto, de que o homem só
verdadeiramente tem a posse daquilo que nem mesmo a morte lhe arrebata. O próprio orbe terrestre não sobreviverá às constantes mutações da matéria que, a cada instante, se quintessência, aproximando-se da natureza do Criador.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011


PROSPERIDADE

Filhos, as religiões que verdadeiramente não cogitam do Reino do Céu vos acenarão com a promessa da prosperidade material sobre a Terra. Não permuteis o que é eterno pelo que é transitório; não façais como Esaú, que, por um prato de lentilhas, abriu mão do seu direito de primogênito para Jacó, seu irmão...

A exemplo de Maria, irmã de Lázaro e Marta, permanecei com a boa parte. Não vos esqueçais do jovem rico, cujo anseio de elevação espiritual não ia ao ponto de
levá-lo ao desprendimento dos bens materiais. Quase sempre, as aspirações de ordem superior do homem se conflitam com os interesses subalternos da sociedade em que vive. Quantos os que, pressionados por carências materiais imaginárias, renunciam à fé espírita, aceitando outras interpretações para as palavras do Senhor?

Quantos os que renegam a crença na reencarnação pelo motivo de terem se exaurido na luta pela própria sublimação? O Espiritismo não efetua aos seus adeptos quaisquer exigências, todavia quem toma consciência de seus postulados sente-se naturalmente constrangido a ceder de si mesmo, cada vez mais.

É a lucidez espiritual que a Doutrina faculta aos seus seguidores o que os induz à
disciplina austera e ao trabalho incansável, ao desapego dos bens perecíveis e ao
sacrifício pelo ideal.

Filhos, não contemporizeis com a ilusão. Ninguém ascenderá aos Planos Mais Altos, preso aos interesses rasteiros do mundo. O Senhor não quer a necessidade, a penúria, a fome, a miséria... Não vos esqueçais, no entanto, de que o homem só
verdadeiramente tem a posse daquilo que nem mesmo a morte lhe arrebata. O próprio orbe terrestre não sobreviverá às constantes mutações da matéria que, a cada instante, se quintessência, aproximando-se da natureza do Criador.

terça-feira, 15 de novembro de 2011


ORAI SEMPRE

Filhos, não vos esqueçais de orar sempre. A oração possibilita ao homem abrandar os próprios sentimentos. Quem se habitua a orar não se entrega ao desespero e à revolta. A prece jamais é um monólogo... Pelo recolhimento íntimo na oração, a criatura conversa com o Criador, que não a deixa sem resposta. Ato de fé solitário, a prece exterioriza a sinceridade do filho que, reconhecendo a própria insignificância, recorre aos préstimos do Pai, que tudo pode.

Jesus orava com freqüência. Sem este contato pessoal com Deus, a crença do homem não passa de uma aparente manifestação de religiosidade. Os que oram nunca se fragilizam diante das lutas que faceiam.

Orai no silêncio de vossas reflexões; orai com a vossa mente e com o vosso coração. Buscai forças no Alto para os embates inevitáveis do caminho, repleto de urzes e de pedras.

Orai com as vossas mãos mergulhadas na caridade; que as vossas petições sejam
referendadas pelas vossas atitudes no bem dos semelhantes... A persistência da fé
remove obstáculos intransponíveis.

A oração modifica o tônus espiritual de quem, por vezes, não enxerga saída para os impasses da existência. Quem não ora será sempre uma presa fácil da obsessão e do desequilíbrio oriundo de si mesmo.

Filhos, abençoai as vossas provas! Afagai o madeiro que vos pesa nos ombros e, sob o sol causticante de vossas dificuldades, não vos afasteis do oásis aconchegante da oração.

A prece é o ato de humildade que mais engrandece o espírito! Sede homens de fé e de oração. Quanto maior o desafio lançado à vossa crença, mais devereis vos curvar à necessidade de orar.

"Pedi e obtereis" - exortou-nos o Senhor, em suas palavras jamais pronunciadas em vão.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011


CAMINHAI COM DETERMINAÇÃO

Filhos, apesar dos percalços que enfrentais, inclusive no que se refere à conquista
do pão de cada dia, prossegui caminhando com determinação. Compreendei o eco do passado distante nas lutas que vos alcançam no presente: o filho rebelde, o cônjuge difícil, a carência material, o assédio sistemático das trevas...

Não descreiais do Amparo Divino, através dos amigos do Mais Alto, que não vos deixam a sós com as vossas provas. Não fosse pela intercessão daqueles que por vós se interessam do Além, é possível que vos precipitásseis em mais profundos abismos de dor.

Inútil pretender qualquer colheita sem justa semeadura. Por outro lado, de que
valeria lançar sobre a gleba inculta a semente promissora? Quantos anseiam por terem o que nada fazem para possuírem?

Adquiri mais ampla compreensão da vida e atinareis com a causa de todos os vossos padecimentos. Toda lágrima encerra uma lição e se constitui num estímulo ao progresso. Quantos são os que negam a existência de Deus, unicamente por não serem atendidos em seus caprichos de ordem pessoal?

O que não tendes nem sempre deve ser interpretado por demérito de vossa parte.
Muitas vezes, a providência que vos é mais necessária ao esforço de auto-superação é o obstáculo que vos parece restringir os movimentos.

Caminhai, pois, com alegria, sem permitir que a descrença se vos insinue no espírito.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011


PERSEVERAI

Filhos, perseverai no testemunho da fé espírita que abraçastes, ante a
revivescência do Evangelho do Senhor. Não recueis ante as provas que vos são
necessárias ao burilamento. Sustentai a coragem na luta, conscientes de que toda
conquista nos domínios do espírito reclama esforço e sacrifício continuados.
Ninguém ascende aos Cimos de passo preso à retaguarda.

A Doutrina Espírita liberta o pensamento, no entanto aquele que procura superar
o comodismo intelectual de séculos sempre encontrará oposição. É natural, pois,
que as trevas conspirem contra os vossos anseios de elevação. Os espíritos, quer
encarnados, quer desencarnados, habituados à mesmice em que vivem, haverão de pelejar para vos desalentar em vossos novos propósitos na existência.

Muitos vos tentarão com o imediatismo dos prazeres mundanos e com as facilidades materiais do caminho. Outros urdirão sofismas, com o intento de vos afastar dos objetivos superiores que concentrastes, na necessidade de renovação íntima. Sem que percais de vista a trajetória do Cristo, não olvideis que a obra da redenção humana diz respeito a cada espírito em particular.

A hora do testemunho é uma hora solitária. Em torno, apupos e injúrias, hostilidade e incompreensão. Não raro, amigos e companheiros permanecerão à distância, vos contemplando as reações. Convosco, não tereis por escora, na áspera subida, outra que não seja a cruz que vos pesa nos ombros. Quase ninguém vos verá o pranto que se vos escorre na face, confundindo-se com o suor derramado no cumprimento do dever. Inevitável, a sensação de extremo abandono dos homens, que vos deve induzir a bem maior confiança em Deus.

Filhos, não permuteis o que é eterno pelo que é transitório. Embora sob duros
reveses, insisti na prática do bem aos semelhantes e tomai a iniciativa do perdão,
na certeza de que o tempo urge e que, ao termo da vossa caminhada sobre a Terra, não tereis outro Céu que não seja o da consciência tranqüila.


A CORAGEM DA FÉ

Filhos, as páginas que ora vos endereçamos do Mais Além, reunidas neste singelo
opúsculo, foram escritas tão-somente com o propósito de encorajar-vos na luta pelo ideal que abraçastes, sob o pálio da doutrina do Evangelho Restaurado, que é o Espiritismo, perseverando, sem esmorecimento, na tarefa da própria renovação que, sem dúvida, se vos constitui no objetivo maior da existência.
De nada vale o brilho da inteligência, se o coração permanece às escuras.
A reencarnação que não promove o renascimento moral da criatura, não passa de ato que não está à altura de sua transcendência e significado.

O conhecimento espírita é, sem dúvida, a melhor oportunidade de conscientização para o homem que pretende libertar-se do cativeiro de milenar comodismo espiritual, afastando-se, em definitivo, das sinuosas estradas da ilusão, com, até então, diminuto aproveitamento das lições que lhe possibilitam o crescimento diante da Vida. Refletindo, assim, sobre o teor de vossas responsabilidades nos deveres que sois chamados a cumprir na Seara, uma vez que não mais vos será possível o recuo, sem graves comprometimentos de ordem cármica, não olvideis a sábia advertência que o Mestre dirigiu aos cristãos de todos os tempos: "Todo aquele, pois, que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus; e o que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus."

Bezerra de Menezes
Uberaba - MG, 29 de agosto de 2002

quinta-feira, 10 de novembro de 2011


CONCLUSÕES

Agora, meu irmão, que devo endereçar essa carta, envio a você um abraço afetuoso, esperando que minha experiência possa ser útil ao seu coração.
Não se julgue, dentro da vida, como alguém que nunca prestará contas dos atos mais íntimos.
Tudo o que praticamos, Dirceu, permanece gravado no livro da consciência.
O bem é a sementeira da luz, portadora de colheitas sublimes de alegria e paz,
enquanto que o mal nos enegrece o espírito, como tinta escura que mancha os alvos cadernos escolares.
Ouça a palavra esclarecedora de nossos pais, os primeiros amigos que a Bondade
Divina colocou à portas e nossa vida terrestre, e nunca despreze os bons conselhos recebidos. A nossa natureza, quase sempre, reclama ternura e compreensão dos que nos cercam, mas a nossa necessidade de preparação espiritual exige luta e contrariedade.
Nem sempre aprendemos o necessário, recebendo demasiadas carícias. Por isso mesmo, na maioria das ocasiões, precisamos do socorro de advertências mais fortes.
Não seja, pois, rebelde à orientação do lar.
Em suma, Dirceu, seja bondoso, fraterno, aplicado ao estudo e ao trabalho.
Conserve amizade sincera aoslivros. Faça-se amigo prestimoso de todas as pessoas, ainda quando não possa você ser compreendido imediatamente por elas.
Não descreia da boa semente, embora a germinação se faça tardia.
Não maltrate nem persiga os animais úteis ou inofensivos. È muito lamentável
atitude de todos a aqueles que convertem a vida terrena num instrumento de
perturbação e destruição para os mais fracos.
Seja bom, Dirceu, profundamente bom, verdadeiro e leal. E creia que todos os seus atos nobre serão largamente recompensados.
Agora, meu querido irmão, devo terminar.
Beije por mim a mamãe e a papai. Estou certo de que um dia nos reuniremos, de novo, no Grande e Abençoado Lar, sem lágrimas e sem morte.
Até lá, conservemos, acima de todas as dores e incertezas, nossa fé viva em Deus e a nossa suprema esperança no destino.
Adeus.
Receba muitas saudades do seu afetuoso...

LIVRO MENSAGENS DE UM PEQUENO MORTO
CHICO XAVIER POR NEIO LÚCIO

FIM

quarta-feira, 9 de novembro de 2011


PRÊMIO

Na semana última, terminei o primeiro ano de minha permanência no Parque e devo assinalar que recebi valioso prêmio de grata significação para mim.
Trabalhei, esforçando-me quando que possível para ser disciplinado, com
aproveitamento das lições.
Nos dez últimos meses, gastei as horas de recreio em serviços de proteção aos
animais, que passaram a querer-me bem, com amizade e simpatia; realizei estudos espirituais de muita importância para o meu futuro, e participei, algumas vezes, de comissões de auxílio fraternal, enviadas a companheiros de luta. Alegre tranquilidade banhava-me a consciência.
Muitos meninos de minha classe foram promovidos a curso mais elevado, entre os quais tive ojúbilo de ser incluído.
Houve uma festa, cheia de alegria e beleza, em que recebi o distintivo da “Boa-
Vontade”, uma linda medalha, esculturada numa substância semelhante a prata e luminosa, apresentando essas duas palavras escritas, em alto relevo, com uma tinta dourada.
Nesse dia venturoso, o professor abraçou-me comovidamente e declarou-me que eu poderia solicitar alguma coisa, alguma concessão nos trabalhos finalistas.
No fundo de meu coração, estava o desejo de ir a casa. Queria abraçar mamãe,
papai ever você. Tinha a idéia de que me encontrava distante há muitos anos e, por isso mesmo, recebi a notificação com imensa alegria.
Respondi, ansioso, que, se me fosse permitido rogar algum contentamento maios que o de ser promovido à categoria superior, pediria para visitar o lar terreno, a fim de abraçar os entes amados de meu coração.
O instrutor, porém, afagando-me delicadamente, ponderou que eu ainda não possuía as forças precisas para semelhante cometimento. Ave frágil, não dispunha de penas para vôo tão arrojado. Mas acrescentou que o meu desejo seria atendido em parte.
No dia seguinte, fui notificado de que veria mamãe, apenas mamãe, por alguns
momentos, numa instituição piedosa situada nas regiões mais próximas daí.
Logo após, numa linda noite, acompanhado de tia Eunice, a cujos cuidados me deixou o orientador, fui ao encontro de nossa mãezinha, numa casa grande e bonita, onde havia intensa movimentação de Espíritos amigos já distanciados do corpo carnal.
O que foi essa hora divina, não poderei descrever. Mamãe foi trazido por uma
senhora iluminada e bela. Parecia mergulhada numa indefinível admiração que a tornava perplexa. Parecia não ver a senhora que a amparava, maternalmente, e, ao aproximar-se de nós, não percebeu a presença de nossa tia, ao meu lado. Quando pousou os olhos sobre mim, reconheceu-me e gritou meu nome muitas vezes. Atirei-me, chorando de júbilo, aos seus braços e estivemos assim, unidos e em lágrimas, durante todos os minutos reservados ao reencontro.
Por fim, a generosa mensageira que a trouxera aproximou-se de mim e falou:
-Basta, meu filho! A alegria também pode prejudicar os que ainda se encontram no corpo.
-Em seguida, retirou mamãe, devagarinho, como quem cuida de uma pessoa doente.
Voltei, então, ao Parque, junto de tia Eunice, com uma esperança nova a banhar-me o coração.
A Bondade de Deus não nos separa as almas para sempre.

LIVRO MENSAGENS DE UM PEQUENO MORTO
CHICO XAVIER POR NEIO LÚCIO

terça-feira, 8 de novembro de 2011


REPARAÇÃO

Terminada a prece, recompus a fisionomia, pedindo ao professor me ensinasse o melhor recursos de resgatar o erro cometido por mim noutro tempo.
Recomendou-me, então, em preleção que servisse para todos os alunos da classe, a aproveitar o ensino e a experiência, dispensando o possível carinho dos animais, que são igualmente criaturas de Deus em marcha progressiva para o aperfeiçoamento, como todos nós, e exortou-me a renovar as recordações daquela hora, com orações fervorosas e sinceros propósitos de nunca mais destruira vida dos seres frágeis e inofensivos da Criação Divina.
Em seguida, comentou as conseqüências desastrosas de nossos gestos
impensados ou criminosos, que espelham desarmonias e perturbações.
Explicou que tem visto inúmeros meninos com os quais se verificou o que ocorria, embora fossem outros os fatos lamentáveis recordados. Lembrou muitas crianças de grande porte, com bastante entendimento, que passam longas horas derrubando ninhos, prendendo aves ou matando-as sem consideração, perseguindo cães trabalhadores ou apedrejando, por perverso prazer, animais úteis e mansos.
Esclareceu que todos os jovens dessa espécie experimentam aqui provações bem amargas, sendo obrigados a reparar as faltas que levaram a efeito no mundo, com absoluto menosprezo das respeitáveis determinações dos pais ou dos bons conselhos das pessoas mais velhas.
Desde então, lembro-me de Bichaninho, sinto-lhe, ainda, a imagem dentro de mim; entretanto, com o poder da prece, meu pensamento tranquilizou-se, voltando ao passado em atitude de sincero arrependimento, pedindo perdão.
Humilhei os meus sentimentos caprichosos, dos quais sempre ocultara o lado mau, e, por isso, tenho melhorado.
Já não possuo mais ócios e nem horas desaproveitadas.
Em todos os instantes consagrados a recreios e diversões, encontro árvores para cuidar e animaizinhos daqui, aos quais posso auxiliar com eficiência e proveito.
Eu, que tanto me alegrava vendo s aves perseguidas pelos meninos fortes, hoje me dedico a ajudar pequenos pássaros na construção de ninhos.
E observoque, diante da minha atitude interior transformada, todas as pessoas que me cercam como que se transformaram para mim. Recebo olhares afetuosos e agradecidos de toda a parte. Os professores e colegas parecem-me mais simpáticos, mais amigos.
Notando-me o sincero esforço para corrigir-me, ninguém me falou do gato apedrejado.
O episódio triste foi esquecido bondosamente por todos.
Devo às árvores e aos passarinhos, aos quais me tenho consagrado nos últimos tempos, as alegrias que me enchem o coração.
Tenho quase certeza de que Bichaninho me perdoou a maldade. Sinto que fiz a paz comigo mesmo e creio que, se eu voltasse presentemente para casa, seria melhor filho e melhor irmão.
Oh, Dirceu, nunca atormente nem mate os animais úteis e inofensivos! Tendo chorado muito para reparar o erro que cometi.

LIVRO MENSAGENS DE UM PEQUENO MORTO
CHICO XAVIER POR NEIO LÚCIO

segunda-feira, 7 de novembro de 2011


CONSCIÊNCIA

Tenho aprendido aqui muitas lições inesperadas.
Jamais pensei que uma criança preguiçosa pudesse fazer tanto mal.
Desde que reconheci isso, meu irmão, tenho chorado muito.
Lembra-se de Bichaninho, o gato de dona Susana, que eu matei a pedradas?
Oh!... como me custa contar tudo a você!...
Aqui, nas aulas do Parque, à medida que fui recebendo os ensinos do nosso professor de obrigações humanas, fui recordando minha falta mais nitidamente. O conhecimento de nós mesmos diante do Universo e da Vida, ao que me parece, acende uma luz, muito forte nas zonas ,mais íntimas de nosso ser. Com essa claridade misteriosa, minhas recordações dos dias que se foram surgem completas e movimentadas em minha imaginação. É assim que, penetrando o fundo de mim mesmo, revi minha vítima, ouvindo-lhe, de novo, os gemidos angustiosos. Inundada pela luz da verdadeira compreensão, minha visão interior permanecia como que alterada. Comeceia ver Bichaninho, em toda a parte. Trazia-o comigo no estudo e no recreio, no serviço e no descanso.
Chegou um momento em que eu não pude mais. Gritei com toda a força. Pedi socorro ao professor e aos colegas. Nosso instrutor falava, justamente nesse instante, sobre o amor e a gratidão que devemos aos animais e, dentro de minha consciência, nesse minuto inesquecível, os olhos aflitos do gatinho pareciam procurar os meus, suplicando piedade.
Vencido, ajoelhei-me em pranto, confessei minha falta grave em alta voz e supliquei ao orientador das lições me afastasse daquele quadro terrível.
Voltaram-se para mim os companheiros, assustados, quando cai, gritando.
O instrutor, todavia, sorriu, benévolo como sempre, aproximou-se, abraçando-me paternalmente, e disse:
-Já sei o que lhe ocorre, meu filho! Tenha calma e paciência. Você está melhorando, porque já descobre as próprias faltas por si mesmo.
Reparei que ele se achava igualmente comovido. Mostrava os olhos rasos d’água.
Depois de longa pausa, afagou-me a cabeça e explicou:
Porque você matou esse gato trabalhador e inocente, sem necessidade, a imagem da vítima está profundamente associada às suas lembranças.
Compreendendo que o professor enxergava quanto se achava oculto em minhas recordações, abracei-me a ele esupliquei:
Meu protetor, meu amigo, ajude-me por piedade!
Ouviu-me com emoção a súplica e compadeceu-se efetivamente de mim, porque impôs as mãos acolhedoras sobre a minha cabeça e orou com sentimento tão sublime, em favor de minha tranquilidade, que senti repentina renovação. Aquelas mão carinhosas irradiaram intensa luz que me penetrou todo o ser, e aquele banho de energias novas, aliado ao alívio da confissão diante de todos, apaziguou-me o espírito.

LIVRO MENSAGENS DE UM PEQUENO MORTO
CHICO XAVIER POR NÉIO LUCIO

sexta-feira, 4 de novembro de 2011


ORGANIZAÇÃO

Achando-se o nosso primo Antoninho no mesmo Parque onde me encontro,
naturalmente você gostará de ter notícias deles, supondo-o talvez junto de mim.
É verdade que respiramos o ambiente da mesma instituição; no entanto, o grande colégio está dividido em seções muito diversas entre si.
Segundo expliquei, faço parte de pequena turma de crianças recém-chegadas daí da Terra e Antoninho já veio há mais tempo. Além disso, nosso primo foi um modelo de bondade e obediência. Era bom. Dava prazer aos pais. Auxiliava os companheiros com alegria. Nunca prendeu os animais e nunca os feriu por maldade. Não perdia tempo com brincadeiras de mau gosto. Dedicava-se à leitura instrutiva e ao trabalho coma devoção sincera do menino correto e estudioso. De tudo isso fui devidamente informado por um dos professores que nos visitam a classe, ao qual inquiri sobre a diferença entre a minha situação e a de nosso querido amigo.
Em vista de minha condição inferior, não posso ir vê-lo; mas Antoninho já
conquistou regalias que eu ainda não possuo, e, de vez em quando, vem bondosamente animar-me e consolar-me.
Em outras ocasiões, abraçamo-nos na reunião geral do Parque, quando todos os
meninos e meninas dos cursos superiores e inferiores seencontram, uma vez por
semana, no dia consagrado à prece e à fraternidade.
Talvez cause surpresa a você o que estou contando, mas nem todas as crianças
trabalham e estudam juntas.
Temos no enorme Parque muitas divisões para os meninos e meninas, em separado, executando-se certa região, a mais elevada de todas, em que uns e outras se localizem em comum, tais os sentimentos sublimes de que são portadores. Quanto à grande maioria de jovens internados no instituto, eles se congregam em agrupamentos maiores ou menores, de acordo com as tendências que os caracterizam.
Há meninas e meninos fracos, doentes, ignorantes e instruídos, revelando atraso, inércia ou adiantamento nas expressões evolutivas, havendo, para cada categoria, seção especializada.
Minha turma constitui-se de crianças recém-vindas, sem qualquer preparo espiritual e com sérios defeitos para corrigir.
Nesse particular, não preciso recordar a você que nunca fui inclinado à disciplina e ao trabalho.
Fazia questão de cultivar a preguiça. Gostava dos bolos, do café com leite, das
refeições, da bicicleta, de minhas bolas de gude, mas nunca soube o preço, nem o esforço que tudo isso custava à mamãe e ao papai.
Hoje, porém, invejo os meninos obedientes e bons, observando-lhes a felicidade
quando deles me aproximo nas horas de repouso e oração. Vejo-os sorridentes e venturosos, quando passam junto de mim, sem vaidade ou afetação, e peço a Jesus, com firmeza, me anime a ser trabalhador e perseverante no bem, a fim de que, um dia, possa unir-me a eles, nos grandes e abençoados serviços de elevação espiritual.

LIVRO MENSAGENS DE UM PEQUENO MORTO
CHICO XAVIER POR NEIO LÚCIO

quinta-feira, 3 de novembro de 2011


TRABALHO

Depois das lições, que são sempre agradáveis e edificantes, somos conduzidos a
uma oficina de grandes proporções, onde trabalhamos na composição de material de ensino para os jovens de cursos superiores, serviço esse que é sempre orientado por sábios instrutores de nossa nova esfera de ação.
Atendemos, por essa forma à obrigações com imenso proveito, porque cumprimos o dever que nos cabe, preparando-nos, ao mesmo tempo, para tarefas maiores.
Tanta atenção e cuidado deveremos, porém, dispensar ao serviço, que Zacarias,
um de nossos colegas mais resolutos, resolveu interpelar, respeitosamente, um dos orientadores, indagando:
-Todos trabalham, como nós, depois da morte do corpo?
-Como não? –respondeu ele sorridente.
-É que –tornou companheiro, acanhado –nos ensinaram na Terra que, depois da morte, somente encontraríamos o repouso eterno, quando bons, e a eterna punição, quando maus.
-É uma ilusão dos homens –esclareceu generosamente o instrutor -, quase sempre interessados em criar artifícios para o engano de si mesmos. A maioria das criaturas encarnadas, nos círculos terrenos, não escondem o desejo vicioso de gozar sem esforço, receber benefícios sem proporcioná-los a outrem e repousar sem servir.
Nesse ponto dos esclarecimentos, sorriu bem-humorado e continuou:
A propósito de semelhante verdade, a maior parte dos meninos que chegam, até aqui, são sempre portadores de enraizados defeitos. Foram muitíssimo mal habituados em casa. Escravizaram-se ao carinho excessivo, ausentaram-se das pequenas responsabilidades e deveres que lhes competiam na organização familiar e, ao serem surpreendidos pela morte, sofrem angustiosamente com a readaptação, porque a vida continua, pura e simples, exigindo do serviço, esforço e boa-vontade de cada um de nós.
Aquelas palavras queimavam-me a consciência. Recordei minha situação antiga.
Vi-me, de novo, em casa, reclamando a atenção de todos, sem qualquer resolução de ser útil aos outros. Não sei se acontecia o mesmo a outros companheiros de turma, que, atentos, mas desapontados, escutavam as explicações. Sei apenas que experimentei íntima sensação de vergonha.
Em seguida ao intervalo havido nas observações, o orientador continuou
esclarecendo-nos que só os maus e osindiferentes buscam meios de fugir ao trabalho, que o serviço nos é concedido como verdadeira benção de luz e paz. Por fim, exortou-nos a recordar que Jesus, em criança, trabalhava na carpintaria, preparando peças de madeira dando-nos o exemplo de corretoaproveitamento do tempo infantil, acrescentando, ainda, que se houvéssemos sido educados, quando nos lares terrestres, no espírito de serviço, não teríamos tanta dificuldade de readaptação à vida espiritual.
Confesso que estou plenamente de acordo com semelhante ponto de vista.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011


ENSINAMENTOS

Naturalmente, você perguntará como se desenvolvem nossos trabalhos escolares e, de antemão, posso responder-lhe que os serviços dessa natureza, em nossa vila espiritual, são quase idênticos aos de um estabelecimento de ensino na Terra.
Temos material didático, em quantidade variada e enorme, inclusive livros e
cadernos de exercícios.
O sistema de ação dos professores, porém, é bastante diverso.
Não somente ensinam: guardam, confortam, orientam.
Acho-me, por exemplo, num curso de bom comportamento e retificação sentimental.
Noto que os instrutores não se descuidam da parte intelectual propriamente dita, preparando-nos o conhecimento das condições alusivas à vida nova em que nos encontramos.
Para isso, valem-se das realizações que já edificamos na Terra. Não nos perturbam com revelações prematuras, nem com demonstrações suscetíveis de alterar o equilíbrio de nossas emoções. Tomam, como ponto de partida, as experiências que já adquirimos e ajudam-nos a desenvolvê-las, gradualmente, sem ferir-nos os raciocínios mais agradáveis.
Tenho a impressão de que os orientadores daqui recebem-nos os conhecimentos terrestres como sementes dos conhecimentos celestiais. Em razão disso, não nos esmagam com a exposição maciça da sabedoria de que são portadores. Cercam-nos de cuidados e carinhos especiais, para que as nossas faculdades superiores germinem e cresçam.
O que assombra, porém, é a vigilância paternal que os abnegados orientadores
desenvolvem junto de nós, no sentido de despertarem nossas idéias mais elevadas.
Nesse propósito, curso de introdução às aulas superiores está cheio de temas
relativos à melhoria espiritual que nos compete atingir. Longas horas são aproveitadas no exame atencioso de interrogações como estas:
-Que pensamos acerca do Cristo?
-Como recebemos os favores da Natureza?
-Que fazemos da vida? Quais os objetivos de nosso esforço pessoal?
-Que concepção alimentamos, relativamente ao tempo e à oportunidade?
-Quais são as diretrizes dos nossos pensamentos?
-Estaremos utilizando para o bem os instrumentos e as possibilidades que o Senhor da Vida nos confiou?
-Semelhantes temas, examinados inicialmente por nossos professores, em
proveitosas aulas de renovação espiritual, dentro das quais nos confessamos uns aos outros através de comentários serenos e francos, fazem luz sobre nós mesmos, revelando-nos aos olhos da extensão de nossas necessidades, pelo egoísmo, pela indiferença e ociosidade em que temos vivido desde muito nos círculos terrestres.

LIVRO MENSAGENS DE UM PEQUENO MORTO
CHICO XAVIER POR NEIO LÚCIO

terça-feira, 1 de novembro de 2011


COMPANHEIROS

Depois de julgado apto para a nova tarefa, passei a figurar numa turma de vinte e oito alunos, todos recém chegados da Terra.
Iniciando-me nas lições, tive oportunidade de conhecer vários desses colegas. A
maioria permanente na mesma posição de luta mental em que me encontro.
As saudades do lar distante absorvem-nos a quase todos.
Recordando os ensinamentos de equilíbrio que recebi de vovó Adélia e tia Eunice, compreendi logo que não deveria chorar, mas nem todos os companheiros procedem assim.
No dia imediato à nossa primeira aula,quando o professor determinou que
descansássemos ao recreio, o Abelardo, aluno mais novo de nossa classe, longe de aceitar-nos o convite para um passeio, postou-se na porta de saída, a chorar
copiosamente.
Miguelino, o mais experiente de mós, aproximou-sedele e perguntou:
-Então, Abelardo, que é isso?
O interpelado não respondeu, continuando a chorar, angustiadamente.
-Já sei –tornou Miguelino, de bom humor -, é saudade de casa, anseio de retornar, não é mesmo?
Sentindo-se compreendido, o companheirinho voltou-se e desabafou:
-Sim, estou com saudades de mamãe, muitas saudades de mamãe!...
Aquelas palavras, pronunciadas com tanta mágoa, cortaram-me o coração. Eu estava sofrendo a mesma dor, e, lembrando-me de casa, custei a dominar as lágrimas que tentavam cair.
Miguelino percebeu que todos nós assistíamos à cena, aflitos e saudosos, por nossa vez. Por isso mesmo, dando a entender que se dirigia a todos nós que nos emocionávamos tanto, explicou, paciente:
-Todos sentimos falta dos entes queridos que permanecem no mundo. A dor da distância nos atinge em comum. Entretanto, como poderíamos auxiliar os que ficaram, permanecendo inconformados? Resolveríamos tão grande problema, chorando sem consolo? Afinal de contas, não somos os únicos em semelhante prova. Existem aqui alguns milhares de jovens nas mesmas condições. Sofreram, como eu, a separação de criaturas que lhes eram profundamente amadas. Experimentaram a saudade, a aflição de voltar. Mas compreenderam, enfim, que nenhuma batalha pode ser ganha sem bastante valor moral, e lutaram consigo mesmos pela posse de mais valiosa compreensão. Além disso, não devemos esquecer que os nossos também virão. Precisamos preparar-nos convenientemente, desenvolvendo a nossa capacidade de auxílio, para sermos úteis a eles,no momento oportuno, Peçamos, pois, ao Supremo Pai coragem e forças.
Aquela exortação amiga penetrou-nos fortemente o espírito.
Abelardo enxugou os olhos, sorriu com esforço e, em breves instantes, nos
reuníamos sob a copa de grandes árvores, consolados eentregues a interessantes e úteis conversas.

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CHICO XAVIER POR NEIO LÚCIO

segunda-feira, 31 de outubro de 2011


EM PRECE

Na primeira noite que se seguia às minhas melhoras, permaneci em companhia de vovó e tia Eunice, no salão maior da residência.
Lindo luar banhava o jardim, lá fora, e a lâmpada de claridade branda, no interior,
semelhava-se a enorme pérola em forma de coração.
Vovó, que olhava o relógio com atenção, convidou-nos à prece, explicando haver chegado o momento justo.
Reunimo-nos em torno de grane mesa, em cujo centro repousava grandioso
jarrão com flores vermelhas, quase iguais aos cravos que conhecemos aí.
Findos alguns minutos de silêncio, para os quais vovó Adélia me pediu os melhores pensamentos, tia Eunice fez linda oração, em voz alta, rogando a Jesus nos amparasse e esclarecesse como sempre, ajudando-nos a ser dignos da benção do Eterno Pai.
Terminada a rogativa, vasto espelho próximo começou, com grande assombro para mim, a iluminar-se de maneira maravilhosa, como se recebesse de zona desconhecida vigorosa projeção de luz dourada. Em breves momentos, surgia ali a imagem de uma senhora cativante, falando conosco.
Vovó e titia passaram a ouvi-la, atentas, enquanto não cabia em mim mesmo de
admiração.
Vencida a surpresa do primeiro minuto, passei a escutá-la, fascinado pela beleza
das lições e dos comentários, cheios de sabedoria, embora não conseguisse penetrar na intimidade de todos os assuntos expostos.
Suas disposições de otimismo eram, porém, admiráveis e contagiosas. Falava-nos, através de um aparelho de televisão, como se estivesse em pessoa, a três passos de nós, com notável serenidade e excelente expressão de bom ânimo.
Além das elucidações valiosas que nos trazia, comentou com mais calor, a nossa
necessidade de entendimento ante os desígnios superiores, com a firme decisão de nos afeiçoaremos a eles, dentro do espírito de serviço. Esclareceu sensatamente que tudo nos ocorre para o bem, desde em que não estejamos na posição lamentáveldas criaturas rebeldes e caprichosas.
Francamente, ouvindo-a, senti-me encorajado, bem disposto. Tive a idéia de que a “visitadora distante” irradiava eflúvios de paz que me reconfortavam profundamente o coração, multiplicando-me as esperanças no futuro sublime.
Naqueles reduzidos minutos, senti que a minha fé cresceu muito, intensificando,
dentro de mim mesmo, o otimismo e a confiança.
Quando se apagou a luz dourada no espelho cristalino, tia Eunice informou-me de que, duas vezes por semana, os lares da vila entravem em contato com elevados instrutores e governantes do nosso novo plano de trabalho, por intermédio dos aparelhos de televisão e radiofonia.
Não cabia a mim de alegria confiante.
Voltando ao repouso, vovó Adélia notificou-me de que, no dia imediato, seria eu
recolhido ao Parque dos Meninos, de onde escrevo exata carta para você.

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CHICO XAVIER POR NEIO LÚCIO

sexta-feira, 28 de outubro de 2011


NOTÍCIAS

Passando ao compartimento próximo, uma bonita sala-de-estar, reparei, surpreendido, num retrato de mamãe, de grandes proporções, que, a notar pelas aparências, era guardado ali com imenso carinho.
Comoveu-me muitíssimo aquela valiosa lembrança, colocada num dos ângulos da sala.
Que saudades enormes transbordaram de meu coração!...
Abracei-me ao retrato, ansiosamente.
Vovó Adélia, contudo, embora tivesse os olhos rasos d’água, dirigiu-me a palavra, com energia adoçada de ternura:
-Carlos, não se emocione! Recorde sua necessidade de equilíbrio sentimental.
Precisamos colaborar com o médico e, para isso, lembramo-nos de sua mãecom alegria!
Reprimi a inquietação que parecia invadir-me novamente, tranqüilizei a mim
mesmo, recompus a fisionomia e procurei sorrir, satisfeito. Vovó e Tia Eunice sorriram também, apreciando-me a boa vontade em obedecer-lhes às recomendações.
Apesar deminha inexperiência, ensaiei a modificação do quadro emotivo, perguntando:
-Vovó, a senhora tem visitado mamãe?
-Sim, sempre posso –esclareceu ela, sorridente, por observar-me o propósito de
renovação, e acrescentou: -lamento apenas que Arlinda não possa compreender, por enquanto, as verdades espirituais. Tem, por isso, perdido muito tempo, dando-se a muitas atividades inúteis.
Sim, vovó falava com indiscutível acerto.
Ah! Se todos soubéssemos, aí na Terra , como é grande e formosa a vida!
Esse pensamento encheu-se de esperança nova. Meus sentimentos ergueram-se mais alto e, abraçando nossa querida avozinha, indaguei:
-A senhora acredita, vovó, que eu ainda possa ser útil a mamãe?
Os olhos de nossa admirável velhinha encheram-se de alegria. Abraçou-me,por sua vez, e exclamou:
Como não, meu filho? Depende de sua boa vontade, de seu esforço nos serviços de preparação. Quando chegar ao Parque dos Meninos, não procure o descanso antes do trabalho e receberá, muito em breve, o júbilo de auxiliar, não apenasa mamãe, mas a muita gente.
Elevando com a resposta e interessado em saber mais de meu novo ambiente, fiz interrogações quanto ao paradeiro de vovô Antônio e de tio Álvaro, sobre os quais sempre se referia mamãe com grande estima. Faltava a presença delesnaquela casinha cheia de amor.
Vovó Adélia, porém, escutou-me e ficou muito triste. Seus olhos estavam cheios de lágrimas que não chegavam a cair.
Esperava-lhe os informantes, quando tia Eunice se adiantou e disse:
-Carlinhos, por enquanto você não pode receber os esclarecimentos que deseja.
Seu vovô e seu tio ainda não puderam chegar até aqui. Mais tarde, saberá tudo.
Ambas, todavia, mostraram-se tão acabrunhadas, que procurei mudar de assunto, recordando o ensino de mamãe de que nunca devemos prosseguirem conversações que sejam desagradáveis a outras pessoas. Creio, porém, que vovô Antônio e tio Álvaro não vão bem, onde se encontram.

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CHICO XAVIER POR NEIO LÚCIO

quinta-feira, 27 de outubro de 2011


A VILA

Durante alguns dias permaneci no leito de convalescente, combatendo, sob o carinho dos familiares, as impressões nocivas que me dominavam o pensamento.
Antoninho, nosso primo, não se demorou mais que um dia ao meu lado. Estava em regime de internato, no Parque dos Meninos, e não devia adiar o regresso aos estudos. O médico, porém, visitou-me todos os dias, no espaço de duas semanas, até que me retirei do quarto, melhorado e bem disposto, apesar de enfraquecido.
Vovó Adélia e Tia Eunice, visivelmente satisfeitas, acompanharam-me ao exterior, amparando-me nos primeiros passos.
Oh! Que alegria!...
Só então percebi que ambas residem numa casa deliciosa e confortável.
Após atravessar pequeno corredor, cheguei a espaçosa sala, bem mobiliada, parando, admirado, na porta cheia de luz, que comunicava com o exterior.
Novo mundo descortinava-se à minha vista.
A paisagem ambiente era bela e prodigiosa. Bonitas casas, semelhantes de algum modo às nossas, apesar de serem muito mais lindas, alinhavam-se, de espaço a espaço, com graça e encanto. Todas elas cercavam-se de pequenos ou grandes jardins, ligados ao fundo por arvoredo agradável aos olhos.
Concluí que os vegetais frutíferos mereciam, em toda a parte, o mesmo carinho
dispensado à flores.
Bandos de aves, de penugem brilhante, vagueavam alegremente nos ares.
Na atmosfera pairava uma tranquilidade que não tive ensejo de conhecer na Terra. Respirei, a longos sorvos, o ar puro e leve.
A residência de vovó Adélia está rodeada de flores diversas, predominando as de
cor avermelhada, o que empresta ao jardim um aspecto de permanentealegria. Disse vovó que tia Eunice foi organizadora da plantação, fazendo a escolha das flores cultivadas.
Você, naturalmente, desejaria saber se são iguais às que possuímos na Terra.
Sim. Muitas parecem com as rosas, cravos e miosótis que aí deixei, mas grande parte mostra diferenças, que não me será possível descrever. Entre o jardim e o pomar da casa da vovó, por exemplo, há dois caramanchões, cobertos com uma trepadeira cujas sementes eu gostaria de enviar a mamãe. Essa planta delicada projeta caprichos e compridos fios, cobertos de folhas verde-escuro, entre as quais desabrocham pequeninas e abundantes coroas de pétalas brancas, pintalgadas de rubro, as quais exalam delicioso aroma. Aliás, os fios de folhas e as flores são tão perfumados e belos que não encontro recursos para comparação.
Para se franco a você, nunca supus houvesse lugar de tamanha beleza, depois da morte. Ante as minhas demonstrações de assombro, esclareceu-me vovó que outras regiões existem, muito mais lindas onde apenas podem penetraras almas santificadas que utilizaram toso o tempo da existência terrestre na prática do bem.

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CHICO XAVIER POR NEIO LÚCIO

quarta-feira, 26 de outubro de 2011


O MÉDICO

Ainda não havíamos terminado as expansões de carinho e alegria, no reencontro, quando o médico esperado chegou.
Tia Eunice foi recebê-lo e trouxe-o á câmara.
Bem-humorado e bem disposto, ele distribuiu saudações com muita alegria.
Examinou-me atenciosamente, aplicou-me raios de luz, acionando pequenino aparelho que não sei descrever, e, em seguida, passou-me a mão direita, em silêncio, muitas vezes, sobre o peito e a cabeça, observando eu que seus dedos se desprendiam faíscas de luz azulada e brilhante.
Terminadas essas operações, levadas a efeito diante de todos os nossos, entrou a conversar, satisfeito e otimista, dando-me a impressão de que se achava muito mais preocupado em dar-me idéias novas que remédios.
Não me perguntou pelo clínico que me tratava em casa, não se interessou
visivelmente por minhagarganta dolorida, nem fez qualquer indagação que me pudesse transportar o pensamento para a situação passada.
Com habilidade, compeliu-me a esquecer a esquecer a dor e a aflição, distraiu-me com assuntos muito interessantes.
Perguntou-me que profissão teria escolhido na Terra, se continuasse entre os
espíritos encarnados, e, quando lhe disse algo do meu pendor para a avaliação, começou a discorrer de modo tão fascinante sobre o progresso da ciência de voar, que me senti francamente outro, despreocupado das idéias de moléstia e apego inferior ao corpo físico que abandonara.
Falava ele como experimentado professor de navegação aérea.
Ouvia-o, por isso mesmo, com crescente assombro.
Depois de inteligente exposição sobre o tema que tanto me interessava, assegurou-me que conhece o nosso Santos Dumont, prometendo-me outras palestras sobre a aviação, na primeira oportunidade.
Percebendo que o bondoso médico ia colocar ponto final à conversação, arrisquei-me a perguntar, absolutamente esquecido de minha enfermidade:
-Doutor, o senhor acredita que poderei continuar estudando aqui?
-Como não? –respondeu, contente –ninguém precisa interromper o serviço de educação própria, por se haver privado do corpo de carne terrestre. Espero vê-lo animado e fortalecido, em breve tempo, para estudar e adquirir conhecimentos novos.
Essas palavras enchiam-me de estímulo e satisfação.
Ao despedir-se, recomendou que eu fosse matriculado no Parque dos Meninos, onde teria os benefícios que me eram indispensáveis, no que vovó Adélia e Tia Eunice aquiesceram, agradecidas.
Quando o médio se foi notei que deixara de escutar os gritos de mamãe e que as dores haviam desaparecido inexplicavelmente.

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CHICO XAVIE POR NEIO LÚCIO

terça-feira, 25 de outubro de 2011


FAMILIARES

Enquanto aguardava o médico,Tia Eunice, em determinado instante, avisou-me de que iria ao interior buscar os familiares, e saiu, deixando-me entregue aos pensamentos novos que me invadiam a cabeça.
Decorridos alguns minutos, abriu-se a porta e nossa tia chegou acompanhada por outraspessoas.
A princípio, julguei que fossem muitas, mas eram duas apenas –vovó Adélia e primo Antoninho.
Vovó prendeu-me atenção ,mais fortemente. Não estava trêmula, nem curvada.
Pareceu-me muito mais moça, alegre e forte. Seus olhos, serenos e lúcidos, irradiavam aquela mesma bondade de outros tempos.
A surpresa de vê-la, junto de mim, enchia-me de encantamento e satisfação.
Que alívio!
Lembra-se de quando vovó se retirou da residência, muito mal, para casa de saúde?
Desde então, jamais a vimos.
Mamãe anunciou-nos então a morte da santa velhinha, sem permitir que a seguíssemos, na grande viagem que a levou a efeito para a derradeira visita.
Freqüentemente, ambos comentávamos as grandes saudades que nos deixara vovó. Ela sempre nos assistira com excessiva ternura. Dominava-nos com amor e bondade. Perdoava-nos todas as faltas. Poderá você aliviar a alegria que senti, vendo-a aproximar-se?
Ao lado dela, estava Antoninho, que reconheci, de pronto. Nosso primo havia
igualmente “morrido”, em hospital distante de nós. Pousou os olhos afetuosos e doces em mim, tranqüilizando-me o coração...
Verdadeira torrente de perguntas atravesso-me o cérebro naqueles momentos rápidos.
Muitas vezes ouvira dizer, aí na Terra, que após a morte do corpo seríamos
conduzidos ao Céu ou ao Inferno. O que eu via, porém, era a continuação da paisagem familiar, querida e confortadora. Vovó, Tia Eunice e Antoninho estavam ali, mais vivos que nunca, diante de mim, desfazendo nosso velho engano de que houvessem desaparecido para sempre na morte.
Nossa carinhosa velhinha e o primo abraçaram-me, sorridentes.
Vovó chorou de alegria ao beijar-me, aconchegando-me ao colo, como antigamente.
Perguntou-me por todos. Lamentou não ter podido acompanhar minha vinda, no que foi substituída por Tia Eunice, edeclarou que visitaria mamãe na primeira oportunidade. Indagou, bondosa, se você e eu ainda éramos aqueles mesmos pequenos endiabrados que lhe escondiam os óculos para ganhar brinquedos e merendas.
Amparando-me nos braços de vovó, tão carinhosa e tão boa,senti muitas saudades de mamãe e chorei bastante.
Nossa querida velhinha, porém, consolou-me, explicando que, um dia, mamãe e vocês virão também para o nosso novo lar.

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CHICO XAVIER POR NEIO LÚCIO

segunda-feira, 24 de outubro de 2011


CARINHO E CONFORTO

Que significava aquela afirmação?
Rente a mim, conservava-se tia Eunice, viva e bem disposta.
Não conseguiria manter qualquer dúvida. Não me encontrava mais envolvido na
alucinação ou no sonho. Minha consciência estava lúcida.
Intrigava-me, contudo, variadas questões, atormentando-me o raciocínio. Sabia
que tuia Eunice já havia morrido desde e muito. E eu? Não me encontrava ali, num quadro natural? Tocava meu próprio corpo, observava paredes e móveis. “Aquilo” seria morrer?
Bastou que eu formulasse tais pensamentos para que ela me sorrisse, bondosa,
acrescentando:
-Sim Carlinhos, você permanece agora entre nós, os que já passamos pela sombra do túmulo.
Francamente, senti arrepios de medo, ,as Tia Eunice, longe de magoar-se,
observou:
-Tolinho! Por que se acovardar? Não tema.
Tanta serenidade infundiu-me confiança. Contudo, os gritos que eu ouvia
perturbavam-me o equilíbrio. Por que motivo escutava semelhantes vozes da mamãe, ali, onde não tinha razão de ser? Imenso mal-estar apoderou-se de mim. Todas as dores, que eu sentia, anteriormente, regressaram ao meu corpo.
Comecei a chorar, convulsivamente.
Tia Eunice, todavia,compreendeu tudo e, dando mostras de saber o que se passava em meu íntimo, acariciou-me, dizendo:
Não se assuste, meu filhinho. As vozes que ouve são realmente da mamãe, que ainda não pode compreender a vida. Você ainda se encontra ligado a ela por vigorosos laços de amor, cheio de apego desvairado e violento. Tenha calma e procure distrair-se.
Quis obedecer à ordem afetuosa, mas não pude. Aqueles apelos que me pareciam chegar de muito longe e minhas ânsia de rever a mamãe querida eram demasiado fortes para que me sentisse libertado num minuto.
Oh! Mas era horrível! Os gritos maternos faziam-se mais altos e mais fortes,
dentro de mim, à medida que eu cedia ao desejo de tudo recordar. E, com isso,
voltaram-se todos os sofrimentos, um a um: a falta de ar.
Tive a idéia de que recomeçava também minha longa e dolorosa agonia.
Tia Eunice exortou-me a ser forte e pensar na Bondade Divina, de modo a vencer as pesadas impressões do momento, mas debalde.
Após banhar-me a fronte em água fresca, apanhada em vaso próximo, acentuou, carinhosamente:
-Não tenha receio. Temos igualmente devorados médicos por aqui e já mandamos buscar um facultativo para atender-nos.
Aflito e desalentado, comecei a esperar.

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CHICO XAVIER POR NEIO LÚCIO