quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

LIVRO VOZES DO GRANDE ALEM DE FRANCISCO CANDIDO XAVIER POR ESPIRITOS DIVERSOS

SUICÍDIO E OBSESSÃO
Hilda

Continuando, quanto possível, a série de estudos da mente desencarnada, em posição de sofrimento, além do sepulcro, na noite de 15 de março de 1956 nossos benfeitores espirituais 
trouxeram à comunicação a jovem Hilda (Espírito), suicida em reajuste, que nos ofertou interessantes apontamentos em torno da sua situação.

Amigos:
Há duas palavras com significação muito diferente na Terra e na Vida Espiritual.
Uma delas é “consciência”, a outra é “responsabilidade”.
No plano físico, muitas vezes conseguimos sufocar a primeira e iludir a segunda temporariamente, mas, no campo das Verdades Eternas, não será possível adormecer ou enganar uma e outra.
A consciência revela-nos tais quais somos, seja onde for, e a responsabilidade marcanos a fronte com os nossos merecimentos, culpas ou compromissos.
Enquanto desfrutais o aprendizado na experiência humana, acautelai-vos na conceituação dessas duas forças, porque o pensamento é a energia coagulante de nossas aspirações e desejos.
Por isso, não fugiremos aos resultados da própria ação.
Fala-vos humilde companheira que ainda sofre, depois de aflitiva tragédia no suicídio, alguém que conhece de perto a responsabilidade na queda a que se arrojou, infeliz.
O pensamento delituoso é assim como um fruto apodrecido que colocamos na casa de nossa mente.
De instante a instante, a corrupção se dilata e atraímos em nosso desfavor todos aqueles elementos que se afinam com a nossa invigilância e que se sentem garantidos por nossa incúria, presidindo-nos a perturbação que fatalmente nos arrasta a grande perda.
- Obsidiada fui eu, é verdade.
- Jovem caprichosa, contrariada em meus impulsos afetivos, acariciei a idéia da fuga, menoscabando todos os favores que a Providência Divina me concedera à estrada primaveril.
Acalentei a idéia do suicídio com volúpia e, com isso, através dela, fortaleci as ligações deploráveis com os desafetos de meu passado, que falava mais alto no presente.
Esqueci-me dos generosos progenitores, a quem devia ternura; dos familiares, junto dos - quais me empenhara em abençoadas dívidas de serviço; olvidei meus amigos, cuja simpatia poderia tomar por valioso escudo em minha justa defesa, e desviei-me do campo de sagradas obrigações,  ignorando  deliberadamente  que  elas,  representavam  os  instrumentos  de  minha restauração espiritual.
Refletia no suicídio com a expectação de quem se encaminhava para uma porta libertadora, tentando, inutilmente, fugir de mim mesma.
E,  nesse passo  desacertado,  todas  as  cadeias do  meu  pretérito se  reconstituíram,  religando-me  às  trevas  interiores,  até  que  numa  noite  de  supremo  infortúnio  empunhei  a  taça fatídica que me liquidaria a existência na carne.
Refiro-me a essa hora terrível e inolvidável, para fortalecer em vosso espírito a: responsabilidade do pensamento criado, alimentado, e vivido...
No momento cruel, um raio de luz clareou-me por dentro!...
Eu não deveria morrer- assim - comecei a pensar. 
Cabia-me guardar nos ombros, por título de glória, a cruz que o Senhor me confiara!...
Imensa  repugnância  pela  deserção,  de súbito,  iluminou-me  a  alma;  entretanto,  na penumbra ao quarto, rostos sinistros se materializaram de leve e braços hirsutos me rodearam.
Vozes inesquecíveis e cavernosas infundiram-me estranho pavor, exclamando: -“É preciso beber.”
A bênção do socorro celeste fora como que abafada por todas as correntes de treva que eu mesma nutrira.
Debalde minha mão trêmula ansiou desfazer-se do líquido fatal.
Esvaíram-se-me as forças.
Senti-me desequilibrada e, embora sustentasse a consciência do meu gesto, sorvi, quase sem querer, a poção com que meu corpo se rendeu ao sepulcro.
Em verdade, eu era obsidiada...
Sofria  a  perseguição  de  adversários,  residentes  na  sombra,  mas  perseguição  que  eu mesma sustentei com a minha desídia e ociosidade mental.
Corporificara,  imprevidente,  todas  as  forças  que,  na  extrema  hora,  me  facilitaram  a queda.
Conservando a idéia lamentável, acabei lamentando a minha própria ruína.
Em razão disso, padeci, depois do túmulo, todas as humilhações que podem rebaixar a 
mulher indefesa... Agora, que se me refazem as energias, recebi a graça de acordar nos amigos encarnados a noção de “responsabilidade” e “consciência”, no campo das imagens que nós mesmos criamos e alimentamos, serviço esse a que me consagrei, até que novo estágio entre os homens me imponha a recapitulação total da prova em que vim a desfalecer. É por essa razão que terminamos as nossas frases despretensiosas, lembrando a vós outros que o pensamento  deplorável,  na  vida intima,  é  assim  como  o  detrito  que  guardamos  irrefletidamente em nosso templo doméstico.
Se somos atenciosos para com a higiene exterior, usando desinfetantes e instrumento de limpeza, assegurando a saúde e a tranqüilidade, movimentemos também o trabalho, a bondade e o estudo, contra a dominação do pensamento infeliz, logo que o pensamento infeliz se esboce levemente na tela de nossos desejos imanifestos.
Cumpramos nossas obrigações, visitemos o amigo enfermo, atendamos à criança desventurada, procuremos a execução de nossas tarefas, busquemos o convívio do livro nobre, tentemos a conversação robusta e edificante, refugiemos-nos no santuário da prece e devotemos-nos à felicidade do próximo, instalando-nos sob a tutela do bem e agindo sempre contra o pensamento insensato, porque, através dele, a obsessão se insinua, a perseguição se materializa, e, quando acordamos, diante da própria responsabilidade, muitas vezes a nossa consciência chora tarde demais. 

Hilda

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