LIVRO VOZES DO GRANDE ALEM DE FRANCISCO CANDIDO XAVIER POR ESPIRITOS DIVERSOS
RESGATE
André Luiz
Na noite de 8 de janeiro de 1955,recolhemos a mensagem de P. Brandão, um amigo desencarnado que fora anteriormente socorrido por nossos Benfeitores em nosso templo de reconforto espiritual.
No início de nossas tarefas, na noite mencionada, havíamos lido por tema de meditação a palavra do Divino Mestre, em que nos recomenda: - “Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás a caminho com ele.”
E o comunicante amigo reportou-se à citação evangélica, a fim de trazer-nos a sua experiência, repleta de material para nossos estudos em torno do ser e do destino.
Meus amigos.
O texto que nos serviu de meditação nesta noite foi aquele das palavras de nosso Divino Mestre: - “Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás a caminho com ele.”
Certamente por isso determinam nossos orientadores algo vos fale de minha agoniada experiência.
Há dois anos, precisamente, tomei contato convosco. Nessa época, não passava de um infeliz psicopata, fora do corpo físico.
Triste duende da aflição na noite da angústia, carregava comigo todos os remanescentes da queda moral a que me despenhara.
Com o auxílio da palavra edificante e da oração fervorosa, senti que o Evangelho do Cristo me transformava...
Clareou-se-me a vida íntima e, amparado por braços amigos, fui conduzido a uma instituição de saúde espiritual.
Por dez meses consecutivos, submeti-me a tratamento.
Revigorado, compareci diante de observadores e analistas de nosso plano, junto dos quais o serviço de socorro iniciado em vosso templo, a meu benefício, encontrou a continuação necessária.
Subordinado a operações magnéticas, minha memória religou-se ao passado próximo e revi-me na existência última, encerrada há trinta anos.
Nos primeiros lustros do século corrente, era eu um rapaz egoísta e leviano, amigo da aventura e adversário do trabalho.
Desposei uma jovem rica e inexperiente, com o simples propósito de surrupiar-lhe a herança, já que o velhinho, que me seria sogro por alguns dias, abeirava-se do sepulcro, por ocasião de meu atrimônio.
Filha única e órfã de mãe, após o descesso do genitor minha mulher viu-se dona de considerável fortuna, que tratei de chamar a mim.
Valendo-me de uma procuração que me permitia atuar com plenos poderes, vendi-lhe as propriedades e reuni, em meu nome, a importância de novecentos contos de réis, e abandonei-a, fugindo para a Europa.
A volúpia do ouro e do prazer entonteceu-me a consciência.
Por cinco anos, mantive-me entre o jogo e a dissipação, até que, finalmente, a miséria e a tuberculose me bateram à porta.
Esmagado por atrozes desilusões, regressei ao Brasil, no entanto, surpreendido, vim a saber que minha esposa, incapaz de resistir à estrema pobreza a que fora por mim relegada, confiara-se ao prostíbulo, encontrando a morte num asilo de moléstias contagiosas, poucos dias antes de minha volta ao Rio.
Foi, então, que o remorso terminou a obra que a moléstia começara.
Em tempo breve, as aflições conscienciais me desligaram do vaso físico.
Fantasma do arrependimento e da culpa, deambulei sem consolo nas trevas de minha própria vida mental.
Não encontrava outras visões que não fossem aquelas de minha companheira a acusar-me ou de meus erros a se erguerem, indefinidamente, diante de meus olhos.
Sofri muito, até que o socorro divino me atingisse o coração desarvorado.
Tornando ao governo próprio e acordado para os deveres do reajuste, vi-me imbuído da sincera disposição de recuperar-me.
Esperançoso, perguntei por meu futuro, mas nossos Instrutores foram unânimes em declarar que ninguém avança sem saldar suas dívidas.
Atordoado, perguntava a mim mesmo por onde recomeçar.
A verdade, porém, surgia clara aos meus olhos.
A esposa desprezada era meu credor número um...
Busquei-a, ansiosamente, contudo, mais infortunada que eu mesmo, permanece ainda
anestesiada na delinquência, imantada a cúmplices de ações reprováveis, em furnas tenebrosas das regiões inferiores.
Ela, porém, é o meu credor principal, e, em razão disso, é o ponto básico de minha restauração.
Implorei o socorro da Compaixão Divina e, por intermédio daqueles heróis da beneficência que nos assistem, obtive permissão para nova romagem de luta, junto daquela que espezinhei.
Tomá-la-ei sob minha responsabilidade e tranporta-la-ei para o caminho da experiência humana, em meus braços, inconsciente qual se encontra.
Renasceremos juntos no berço carnal, amparados por um coração materno que já se dispôs a recolher-nos.
Seremos irmãos gêmeos, filhos de um parto duplo.
Ser-lhe-ei o guardião, o tutor e o amigo.
Em plena meninice, sofrerá ela as inibições orgânicas que, pouco a pouco, interná-la-ão num leito de amargura em que possa retificar os desequilíbrios perispiríticos e, assegurando-lhe a manutenção e o consolo, atenderei a regeneração de que necessito.
Conquistarei dificilmente o pão de cada dia para nós ambos.
Renunciarei a quaisquer vantagens nas lides materiais.
Nem aspirações mundanas realizadas, nem sonhos de felicidade atendidos, no aprendizado novo que me cabe desenvolver.
Envergarei a túnica do operário desfavorecido e sacrificado, para descobrir no trabalho a essência.
E, devotado e contente, montarei guarda à companheira que caiu por minha culpa.
Ser-me-á irmã torturada e querida, por quem devo adiar a concretização de qualquer esperança, no que se refira a minha ventura pessoal.
Entretanto, não lhe sou devedor de simples patrimônio moral, mas, perante as Leis Divinas, devo-lhe, ainda, dinheiro terrestre em moeda brasileira.
Compete-me restituir-lhe a importância que lhe pertencia, acrescida com juros de mora, que pagarei, vintém por vintém, até que nos desvencilhemos do cárcere de nossos débitos, recuperando, enfim, a oportunidade de progredir que, formosa, nos sorria no alvorecer deste século.
Minha palavra, pois, nesta noite, é um adeus e um agradecimento, constituindo igualmente, em nome das Leis de Deus, uma lição que devemos aproveitar.
“Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás a caminho com ele.” (1)
Quem puder compreender, compreenda, porque o tempo funciona para os todos, dentro dos mesmos princípios.
Envolvendo, assim, os nossos benfeitores em meu agradecimento, espero abraçar-vos, de novo, amanhã, em Plena eternidade.
Que deus nos abençoe.
P. Brandão
(1) Mateus, 5:25. – Nota do Organizador.
André Luiz
Na noite de 8 de janeiro de 1955,recolhemos a mensagem de P. Brandão, um amigo desencarnado que fora anteriormente socorrido por nossos Benfeitores em nosso templo de reconforto espiritual.
No início de nossas tarefas, na noite mencionada, havíamos lido por tema de meditação a palavra do Divino Mestre, em que nos recomenda: - “Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás a caminho com ele.”
E o comunicante amigo reportou-se à citação evangélica, a fim de trazer-nos a sua experiência, repleta de material para nossos estudos em torno do ser e do destino.
Meus amigos.
O texto que nos serviu de meditação nesta noite foi aquele das palavras de nosso Divino Mestre: - “Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás a caminho com ele.”
Certamente por isso determinam nossos orientadores algo vos fale de minha agoniada experiência.
Há dois anos, precisamente, tomei contato convosco. Nessa época, não passava de um infeliz psicopata, fora do corpo físico.
Triste duende da aflição na noite da angústia, carregava comigo todos os remanescentes da queda moral a que me despenhara.
Com o auxílio da palavra edificante e da oração fervorosa, senti que o Evangelho do Cristo me transformava...
Clareou-se-me a vida íntima e, amparado por braços amigos, fui conduzido a uma instituição de saúde espiritual.
Por dez meses consecutivos, submeti-me a tratamento.
Revigorado, compareci diante de observadores e analistas de nosso plano, junto dos quais o serviço de socorro iniciado em vosso templo, a meu benefício, encontrou a continuação necessária.
Subordinado a operações magnéticas, minha memória religou-se ao passado próximo e revi-me na existência última, encerrada há trinta anos.
Nos primeiros lustros do século corrente, era eu um rapaz egoísta e leviano, amigo da aventura e adversário do trabalho.
Desposei uma jovem rica e inexperiente, com o simples propósito de surrupiar-lhe a herança, já que o velhinho, que me seria sogro por alguns dias, abeirava-se do sepulcro, por ocasião de meu atrimônio.
Filha única e órfã de mãe, após o descesso do genitor minha mulher viu-se dona de considerável fortuna, que tratei de chamar a mim.
Valendo-me de uma procuração que me permitia atuar com plenos poderes, vendi-lhe as propriedades e reuni, em meu nome, a importância de novecentos contos de réis, e abandonei-a, fugindo para a Europa.
A volúpia do ouro e do prazer entonteceu-me a consciência.
Por cinco anos, mantive-me entre o jogo e a dissipação, até que, finalmente, a miséria e a tuberculose me bateram à porta.
Esmagado por atrozes desilusões, regressei ao Brasil, no entanto, surpreendido, vim a saber que minha esposa, incapaz de resistir à estrema pobreza a que fora por mim relegada, confiara-se ao prostíbulo, encontrando a morte num asilo de moléstias contagiosas, poucos dias antes de minha volta ao Rio.
Foi, então, que o remorso terminou a obra que a moléstia começara.
Em tempo breve, as aflições conscienciais me desligaram do vaso físico.
Fantasma do arrependimento e da culpa, deambulei sem consolo nas trevas de minha própria vida mental.
Não encontrava outras visões que não fossem aquelas de minha companheira a acusar-me ou de meus erros a se erguerem, indefinidamente, diante de meus olhos.
Sofri muito, até que o socorro divino me atingisse o coração desarvorado.
Tornando ao governo próprio e acordado para os deveres do reajuste, vi-me imbuído da sincera disposição de recuperar-me.
Esperançoso, perguntei por meu futuro, mas nossos Instrutores foram unânimes em declarar que ninguém avança sem saldar suas dívidas.
Atordoado, perguntava a mim mesmo por onde recomeçar.
A verdade, porém, surgia clara aos meus olhos.
A esposa desprezada era meu credor número um...
Busquei-a, ansiosamente, contudo, mais infortunada que eu mesmo, permanece ainda
anestesiada na delinquência, imantada a cúmplices de ações reprováveis, em furnas tenebrosas das regiões inferiores.
Ela, porém, é o meu credor principal, e, em razão disso, é o ponto básico de minha restauração.
Implorei o socorro da Compaixão Divina e, por intermédio daqueles heróis da beneficência que nos assistem, obtive permissão para nova romagem de luta, junto daquela que espezinhei.
Tomá-la-ei sob minha responsabilidade e tranporta-la-ei para o caminho da experiência humana, em meus braços, inconsciente qual se encontra.
Renasceremos juntos no berço carnal, amparados por um coração materno que já se dispôs a recolher-nos.
Seremos irmãos gêmeos, filhos de um parto duplo.
Ser-lhe-ei o guardião, o tutor e o amigo.
Em plena meninice, sofrerá ela as inibições orgânicas que, pouco a pouco, interná-la-ão num leito de amargura em que possa retificar os desequilíbrios perispiríticos e, assegurando-lhe a manutenção e o consolo, atenderei a regeneração de que necessito.
Conquistarei dificilmente o pão de cada dia para nós ambos.
Renunciarei a quaisquer vantagens nas lides materiais.
Nem aspirações mundanas realizadas, nem sonhos de felicidade atendidos, no aprendizado novo que me cabe desenvolver.
Envergarei a túnica do operário desfavorecido e sacrificado, para descobrir no trabalho a essência.
E, devotado e contente, montarei guarda à companheira que caiu por minha culpa.
Ser-me-á irmã torturada e querida, por quem devo adiar a concretização de qualquer esperança, no que se refira a minha ventura pessoal.
Entretanto, não lhe sou devedor de simples patrimônio moral, mas, perante as Leis Divinas, devo-lhe, ainda, dinheiro terrestre em moeda brasileira.
Compete-me restituir-lhe a importância que lhe pertencia, acrescida com juros de mora, que pagarei, vintém por vintém, até que nos desvencilhemos do cárcere de nossos débitos, recuperando, enfim, a oportunidade de progredir que, formosa, nos sorria no alvorecer deste século.
Minha palavra, pois, nesta noite, é um adeus e um agradecimento, constituindo igualmente, em nome das Leis de Deus, uma lição que devemos aproveitar.
“Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás a caminho com ele.” (1)
Quem puder compreender, compreenda, porque o tempo funciona para os todos, dentro dos mesmos princípios.
Envolvendo, assim, os nossos benfeitores em meu agradecimento, espero abraçar-vos, de novo, amanhã, em Plena eternidade.
Que deus nos abençoe.
P. Brandão
(1) Mateus, 5:25. – Nota do Organizador.
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