quarta-feira, 26 de novembro de 2014

LIVRO VOZES DO GRANDE ALEM DE FRANCISCO CANDIDO XAVIER POR ESPIRITOS DIVERSOS

ELES, NOSSOS IRMÃOS
José Inácio Silveira da Mota

Na fase terminal de nossas tarefas, na noite de 18 de agosto de 1955, o canal mediúnico foi mobilizado pelo espírito José Inácio Silveira da Mota, que foi senador do Segundo Império e valoroso abolicionista do cativeiro no Brasil.
Honrando o nosso grupo com a sua presença, Silveira da Mota comenta, com brilho, a situação de muitos dos antigos escravos, em nossa Pátria, ainda hoje aprisionados pelas exigências dos irmãos encarnados, que lhes exploram a abnegação e o carinho.
Falemos algo com referência a eles, nossos irmãos.
Até hoje, ninguém sabe com segurança quantos vieram.
Humboldt, estudando a localização das raças na América, admite que, em princípios do século passado, constituíam, na população do Brasil, a parcela de quase dois milhões.
Eram arrancadas ao lar como se furtam pássaros ao viveiro.
Seduzidos e caçados sem compaixão, reconheciam-se, em breve, desiludidos ou puxados a ferro.
Dos porões de navios, chamados tumbeiros, em cujo bojo sofriam a tristeza e a solidão, a peste e a morte, eram trazidos à praça pública e vendidos em leilão à maneira de porcos.
Separados uns dos outros, traídos e seviciados, viam-se espalhados, aqui e ali, como burros de carga.
No entanto, formavam o sustentáculo do engenho e do cafezal, do moinho e da mineração,
da cidade e do campo.
Nenhuma edificação do monumento brasíleo foi começada sem eles, mas por salário, ao martírio silencioso em que se sacrificavam, obtinham somente a senzala e o pelourinho, o flagelo e a humilhação, a algema e o chicote.
Muitas vezes, foram considerados em nível inferior ao dos animais.
Plantavam, criavam e construíam como autênticos desbravadores do deserto verde, contudo, não recolhiam dos senhores que os exploravam senão a escura retribuição do suor e das lágrimas.
Por mais de trezentos anos, na condição de cativos, cruzaram o litoral e a montanha, chorando e servindo...
Incorporaram-se, desse modo, ao tronco genealógico da família brasileira.
Arrebatados ao berço em que se desenvolviam, permaneceram agora, como é natural, jungidos à terra diferente em que se fizeram credores da evolução e do progresso.
Entretanto, a redentora lei de 13 de maio de 1888, que lhes devolveu a liberdade, não lhes atingiu de todo a vida espiritual, porque ainda hoje, abertas as portas do intercâmbio entre os dois mundos, ei-los de novo, atraídos e engodados nas múltiplas linhas do fenômeno psíquico, para continuarem na posição de elemento servil.
Abusa-se-lhes da ingenuidade, pede-se-lhes o concurso na magia deprimente, zurze-se-lhes o coração com exigências desprezíveis e suga-se-lhes o seio...
Espíritas do Brasil, pregoeiros da fé renovadora, quando em contacto com os desencarnados, que ainda se ligam ao mundo africano, por força de estágio evolutivo, olvidai a paixão escravagista, deles aprendendo a abnegação e a humildade e ajudando-os, em troca, a subir para mais altas formas de educação.
Manter o cativeiro do corpo ou da alma é falta grave, pela qual responderemos, um dia, nos tribunais celestes.
Lembremo-nos de que os escravos de ontem são igualmente nossos irmãos, e aos irmãos não se estende a canga opressiva e perturbadora, mas sim a fonte do amor e a bênção da luz.

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