segunda-feira, 31 de outubro de 2011


EM PRECE

Na primeira noite que se seguia às minhas melhoras, permaneci em companhia de vovó e tia Eunice, no salão maior da residência.
Lindo luar banhava o jardim, lá fora, e a lâmpada de claridade branda, no interior,
semelhava-se a enorme pérola em forma de coração.
Vovó, que olhava o relógio com atenção, convidou-nos à prece, explicando haver chegado o momento justo.
Reunimo-nos em torno de grane mesa, em cujo centro repousava grandioso
jarrão com flores vermelhas, quase iguais aos cravos que conhecemos aí.
Findos alguns minutos de silêncio, para os quais vovó Adélia me pediu os melhores pensamentos, tia Eunice fez linda oração, em voz alta, rogando a Jesus nos amparasse e esclarecesse como sempre, ajudando-nos a ser dignos da benção do Eterno Pai.
Terminada a rogativa, vasto espelho próximo começou, com grande assombro para mim, a iluminar-se de maneira maravilhosa, como se recebesse de zona desconhecida vigorosa projeção de luz dourada. Em breves momentos, surgia ali a imagem de uma senhora cativante, falando conosco.
Vovó e titia passaram a ouvi-la, atentas, enquanto não cabia em mim mesmo de
admiração.
Vencida a surpresa do primeiro minuto, passei a escutá-la, fascinado pela beleza
das lições e dos comentários, cheios de sabedoria, embora não conseguisse penetrar na intimidade de todos os assuntos expostos.
Suas disposições de otimismo eram, porém, admiráveis e contagiosas. Falava-nos, através de um aparelho de televisão, como se estivesse em pessoa, a três passos de nós, com notável serenidade e excelente expressão de bom ânimo.
Além das elucidações valiosas que nos trazia, comentou com mais calor, a nossa
necessidade de entendimento ante os desígnios superiores, com a firme decisão de nos afeiçoaremos a eles, dentro do espírito de serviço. Esclareceu sensatamente que tudo nos ocorre para o bem, desde em que não estejamos na posição lamentáveldas criaturas rebeldes e caprichosas.
Francamente, ouvindo-a, senti-me encorajado, bem disposto. Tive a idéia de que a “visitadora distante” irradiava eflúvios de paz que me reconfortavam profundamente o coração, multiplicando-me as esperanças no futuro sublime.
Naqueles reduzidos minutos, senti que a minha fé cresceu muito, intensificando,
dentro de mim mesmo, o otimismo e a confiança.
Quando se apagou a luz dourada no espelho cristalino, tia Eunice informou-me de que, duas vezes por semana, os lares da vila entravem em contato com elevados instrutores e governantes do nosso novo plano de trabalho, por intermédio dos aparelhos de televisão e radiofonia.
Não cabia a mim de alegria confiante.
Voltando ao repouso, vovó Adélia notificou-me de que, no dia imediato, seria eu
recolhido ao Parque dos Meninos, de onde escrevo exata carta para você.

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CHICO XAVIER POR NEIO LÚCIO

sexta-feira, 28 de outubro de 2011


NOTÍCIAS

Passando ao compartimento próximo, uma bonita sala-de-estar, reparei, surpreendido, num retrato de mamãe, de grandes proporções, que, a notar pelas aparências, era guardado ali com imenso carinho.
Comoveu-me muitíssimo aquela valiosa lembrança, colocada num dos ângulos da sala.
Que saudades enormes transbordaram de meu coração!...
Abracei-me ao retrato, ansiosamente.
Vovó Adélia, contudo, embora tivesse os olhos rasos d’água, dirigiu-me a palavra, com energia adoçada de ternura:
-Carlos, não se emocione! Recorde sua necessidade de equilíbrio sentimental.
Precisamos colaborar com o médico e, para isso, lembramo-nos de sua mãecom alegria!
Reprimi a inquietação que parecia invadir-me novamente, tranqüilizei a mim
mesmo, recompus a fisionomia e procurei sorrir, satisfeito. Vovó e Tia Eunice sorriram também, apreciando-me a boa vontade em obedecer-lhes às recomendações.
Apesar deminha inexperiência, ensaiei a modificação do quadro emotivo, perguntando:
-Vovó, a senhora tem visitado mamãe?
-Sim, sempre posso –esclareceu ela, sorridente, por observar-me o propósito de
renovação, e acrescentou: -lamento apenas que Arlinda não possa compreender, por enquanto, as verdades espirituais. Tem, por isso, perdido muito tempo, dando-se a muitas atividades inúteis.
Sim, vovó falava com indiscutível acerto.
Ah! Se todos soubéssemos, aí na Terra , como é grande e formosa a vida!
Esse pensamento encheu-se de esperança nova. Meus sentimentos ergueram-se mais alto e, abraçando nossa querida avozinha, indaguei:
-A senhora acredita, vovó, que eu ainda possa ser útil a mamãe?
Os olhos de nossa admirável velhinha encheram-se de alegria. Abraçou-me,por sua vez, e exclamou:
Como não, meu filho? Depende de sua boa vontade, de seu esforço nos serviços de preparação. Quando chegar ao Parque dos Meninos, não procure o descanso antes do trabalho e receberá, muito em breve, o júbilo de auxiliar, não apenasa mamãe, mas a muita gente.
Elevando com a resposta e interessado em saber mais de meu novo ambiente, fiz interrogações quanto ao paradeiro de vovô Antônio e de tio Álvaro, sobre os quais sempre se referia mamãe com grande estima. Faltava a presença delesnaquela casinha cheia de amor.
Vovó Adélia, porém, escutou-me e ficou muito triste. Seus olhos estavam cheios de lágrimas que não chegavam a cair.
Esperava-lhe os informantes, quando tia Eunice se adiantou e disse:
-Carlinhos, por enquanto você não pode receber os esclarecimentos que deseja.
Seu vovô e seu tio ainda não puderam chegar até aqui. Mais tarde, saberá tudo.
Ambas, todavia, mostraram-se tão acabrunhadas, que procurei mudar de assunto, recordando o ensino de mamãe de que nunca devemos prosseguirem conversações que sejam desagradáveis a outras pessoas. Creio, porém, que vovô Antônio e tio Álvaro não vão bem, onde se encontram.

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CHICO XAVIER POR NEIO LÚCIO

quinta-feira, 27 de outubro de 2011


A VILA

Durante alguns dias permaneci no leito de convalescente, combatendo, sob o carinho dos familiares, as impressões nocivas que me dominavam o pensamento.
Antoninho, nosso primo, não se demorou mais que um dia ao meu lado. Estava em regime de internato, no Parque dos Meninos, e não devia adiar o regresso aos estudos. O médico, porém, visitou-me todos os dias, no espaço de duas semanas, até que me retirei do quarto, melhorado e bem disposto, apesar de enfraquecido.
Vovó Adélia e Tia Eunice, visivelmente satisfeitas, acompanharam-me ao exterior, amparando-me nos primeiros passos.
Oh! Que alegria!...
Só então percebi que ambas residem numa casa deliciosa e confortável.
Após atravessar pequeno corredor, cheguei a espaçosa sala, bem mobiliada, parando, admirado, na porta cheia de luz, que comunicava com o exterior.
Novo mundo descortinava-se à minha vista.
A paisagem ambiente era bela e prodigiosa. Bonitas casas, semelhantes de algum modo às nossas, apesar de serem muito mais lindas, alinhavam-se, de espaço a espaço, com graça e encanto. Todas elas cercavam-se de pequenos ou grandes jardins, ligados ao fundo por arvoredo agradável aos olhos.
Concluí que os vegetais frutíferos mereciam, em toda a parte, o mesmo carinho
dispensado à flores.
Bandos de aves, de penugem brilhante, vagueavam alegremente nos ares.
Na atmosfera pairava uma tranquilidade que não tive ensejo de conhecer na Terra. Respirei, a longos sorvos, o ar puro e leve.
A residência de vovó Adélia está rodeada de flores diversas, predominando as de
cor avermelhada, o que empresta ao jardim um aspecto de permanentealegria. Disse vovó que tia Eunice foi organizadora da plantação, fazendo a escolha das flores cultivadas.
Você, naturalmente, desejaria saber se são iguais às que possuímos na Terra.
Sim. Muitas parecem com as rosas, cravos e miosótis que aí deixei, mas grande parte mostra diferenças, que não me será possível descrever. Entre o jardim e o pomar da casa da vovó, por exemplo, há dois caramanchões, cobertos com uma trepadeira cujas sementes eu gostaria de enviar a mamãe. Essa planta delicada projeta caprichos e compridos fios, cobertos de folhas verde-escuro, entre as quais desabrocham pequeninas e abundantes coroas de pétalas brancas, pintalgadas de rubro, as quais exalam delicioso aroma. Aliás, os fios de folhas e as flores são tão perfumados e belos que não encontro recursos para comparação.
Para se franco a você, nunca supus houvesse lugar de tamanha beleza, depois da morte. Ante as minhas demonstrações de assombro, esclareceu-me vovó que outras regiões existem, muito mais lindas onde apenas podem penetraras almas santificadas que utilizaram toso o tempo da existência terrestre na prática do bem.

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CHICO XAVIER POR NEIO LÚCIO

quarta-feira, 26 de outubro de 2011


O MÉDICO

Ainda não havíamos terminado as expansões de carinho e alegria, no reencontro, quando o médico esperado chegou.
Tia Eunice foi recebê-lo e trouxe-o á câmara.
Bem-humorado e bem disposto, ele distribuiu saudações com muita alegria.
Examinou-me atenciosamente, aplicou-me raios de luz, acionando pequenino aparelho que não sei descrever, e, em seguida, passou-me a mão direita, em silêncio, muitas vezes, sobre o peito e a cabeça, observando eu que seus dedos se desprendiam faíscas de luz azulada e brilhante.
Terminadas essas operações, levadas a efeito diante de todos os nossos, entrou a conversar, satisfeito e otimista, dando-me a impressão de que se achava muito mais preocupado em dar-me idéias novas que remédios.
Não me perguntou pelo clínico que me tratava em casa, não se interessou
visivelmente por minhagarganta dolorida, nem fez qualquer indagação que me pudesse transportar o pensamento para a situação passada.
Com habilidade, compeliu-me a esquecer a esquecer a dor e a aflição, distraiu-me com assuntos muito interessantes.
Perguntou-me que profissão teria escolhido na Terra, se continuasse entre os
espíritos encarnados, e, quando lhe disse algo do meu pendor para a avaliação, começou a discorrer de modo tão fascinante sobre o progresso da ciência de voar, que me senti francamente outro, despreocupado das idéias de moléstia e apego inferior ao corpo físico que abandonara.
Falava ele como experimentado professor de navegação aérea.
Ouvia-o, por isso mesmo, com crescente assombro.
Depois de inteligente exposição sobre o tema que tanto me interessava, assegurou-me que conhece o nosso Santos Dumont, prometendo-me outras palestras sobre a aviação, na primeira oportunidade.
Percebendo que o bondoso médico ia colocar ponto final à conversação, arrisquei-me a perguntar, absolutamente esquecido de minha enfermidade:
-Doutor, o senhor acredita que poderei continuar estudando aqui?
-Como não? –respondeu, contente –ninguém precisa interromper o serviço de educação própria, por se haver privado do corpo de carne terrestre. Espero vê-lo animado e fortalecido, em breve tempo, para estudar e adquirir conhecimentos novos.
Essas palavras enchiam-me de estímulo e satisfação.
Ao despedir-se, recomendou que eu fosse matriculado no Parque dos Meninos, onde teria os benefícios que me eram indispensáveis, no que vovó Adélia e Tia Eunice aquiesceram, agradecidas.
Quando o médio se foi notei que deixara de escutar os gritos de mamãe e que as dores haviam desaparecido inexplicavelmente.

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CHICO XAVIE POR NEIO LÚCIO

terça-feira, 25 de outubro de 2011


FAMILIARES

Enquanto aguardava o médico,Tia Eunice, em determinado instante, avisou-me de que iria ao interior buscar os familiares, e saiu, deixando-me entregue aos pensamentos novos que me invadiam a cabeça.
Decorridos alguns minutos, abriu-se a porta e nossa tia chegou acompanhada por outraspessoas.
A princípio, julguei que fossem muitas, mas eram duas apenas –vovó Adélia e primo Antoninho.
Vovó prendeu-me atenção ,mais fortemente. Não estava trêmula, nem curvada.
Pareceu-me muito mais moça, alegre e forte. Seus olhos, serenos e lúcidos, irradiavam aquela mesma bondade de outros tempos.
A surpresa de vê-la, junto de mim, enchia-me de encantamento e satisfação.
Que alívio!
Lembra-se de quando vovó se retirou da residência, muito mal, para casa de saúde?
Desde então, jamais a vimos.
Mamãe anunciou-nos então a morte da santa velhinha, sem permitir que a seguíssemos, na grande viagem que a levou a efeito para a derradeira visita.
Freqüentemente, ambos comentávamos as grandes saudades que nos deixara vovó. Ela sempre nos assistira com excessiva ternura. Dominava-nos com amor e bondade. Perdoava-nos todas as faltas. Poderá você aliviar a alegria que senti, vendo-a aproximar-se?
Ao lado dela, estava Antoninho, que reconheci, de pronto. Nosso primo havia
igualmente “morrido”, em hospital distante de nós. Pousou os olhos afetuosos e doces em mim, tranqüilizando-me o coração...
Verdadeira torrente de perguntas atravesso-me o cérebro naqueles momentos rápidos.
Muitas vezes ouvira dizer, aí na Terra, que após a morte do corpo seríamos
conduzidos ao Céu ou ao Inferno. O que eu via, porém, era a continuação da paisagem familiar, querida e confortadora. Vovó, Tia Eunice e Antoninho estavam ali, mais vivos que nunca, diante de mim, desfazendo nosso velho engano de que houvessem desaparecido para sempre na morte.
Nossa carinhosa velhinha e o primo abraçaram-me, sorridentes.
Vovó chorou de alegria ao beijar-me, aconchegando-me ao colo, como antigamente.
Perguntou-me por todos. Lamentou não ter podido acompanhar minha vinda, no que foi substituída por Tia Eunice, edeclarou que visitaria mamãe na primeira oportunidade. Indagou, bondosa, se você e eu ainda éramos aqueles mesmos pequenos endiabrados que lhe escondiam os óculos para ganhar brinquedos e merendas.
Amparando-me nos braços de vovó, tão carinhosa e tão boa,senti muitas saudades de mamãe e chorei bastante.
Nossa querida velhinha, porém, consolou-me, explicando que, um dia, mamãe e vocês virão também para o nosso novo lar.

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CHICO XAVIER POR NEIO LÚCIO

segunda-feira, 24 de outubro de 2011


CARINHO E CONFORTO

Que significava aquela afirmação?
Rente a mim, conservava-se tia Eunice, viva e bem disposta.
Não conseguiria manter qualquer dúvida. Não me encontrava mais envolvido na
alucinação ou no sonho. Minha consciência estava lúcida.
Intrigava-me, contudo, variadas questões, atormentando-me o raciocínio. Sabia
que tuia Eunice já havia morrido desde e muito. E eu? Não me encontrava ali, num quadro natural? Tocava meu próprio corpo, observava paredes e móveis. “Aquilo” seria morrer?
Bastou que eu formulasse tais pensamentos para que ela me sorrisse, bondosa,
acrescentando:
-Sim Carlinhos, você permanece agora entre nós, os que já passamos pela sombra do túmulo.
Francamente, senti arrepios de medo, ,as Tia Eunice, longe de magoar-se,
observou:
-Tolinho! Por que se acovardar? Não tema.
Tanta serenidade infundiu-me confiança. Contudo, os gritos que eu ouvia
perturbavam-me o equilíbrio. Por que motivo escutava semelhantes vozes da mamãe, ali, onde não tinha razão de ser? Imenso mal-estar apoderou-se de mim. Todas as dores, que eu sentia, anteriormente, regressaram ao meu corpo.
Comecei a chorar, convulsivamente.
Tia Eunice, todavia,compreendeu tudo e, dando mostras de saber o que se passava em meu íntimo, acariciou-me, dizendo:
Não se assuste, meu filhinho. As vozes que ouve são realmente da mamãe, que ainda não pode compreender a vida. Você ainda se encontra ligado a ela por vigorosos laços de amor, cheio de apego desvairado e violento. Tenha calma e procure distrair-se.
Quis obedecer à ordem afetuosa, mas não pude. Aqueles apelos que me pareciam chegar de muito longe e minhas ânsia de rever a mamãe querida eram demasiado fortes para que me sentisse libertado num minuto.
Oh! Mas era horrível! Os gritos maternos faziam-se mais altos e mais fortes,
dentro de mim, à medida que eu cedia ao desejo de tudo recordar. E, com isso,
voltaram-se todos os sofrimentos, um a um: a falta de ar.
Tive a idéia de que recomeçava também minha longa e dolorosa agonia.
Tia Eunice exortou-me a ser forte e pensar na Bondade Divina, de modo a vencer as pesadas impressões do momento, mas debalde.
Após banhar-me a fronte em água fresca, apanhada em vaso próximo, acentuou, carinhosamente:
-Não tenha receio. Temos igualmente devorados médicos por aqui e já mandamos buscar um facultativo para atender-nos.
Aflito e desalentado, comecei a esperar.

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CHICO XAVIER POR NEIO LÚCIO

sexta-feira, 21 de outubro de 2011


CARINHO E CONFORTO

Que significava aquela afirmação?
Rente a mim, conservava-se tia Eunice, viva e bem disposta.
Não conseguiria manter qualquer dúvida. Não me encontrava mais envolvido na alucinação ou no sonho. Minha consciência estava lúcida.
Intrigava-me, contudo, variadas questões, atormentando-me o raciocínio. Sabia que tuia Eunice já havia morrido desde e muito. E eu? Não me encontrava ali, num quadro natural? Tocava meu próprio corpo, observava paredes e móveis. “Aquilo” seria morrer?
Bastou que eu formulasse tais pensamentos para que ela me sorrisse, bondosa, acrescentando:
-Sim Carlinhos, você permanece agora entre nós, os que já passamos pela sombra do túmulo.
Francamente, senti arrepios de medo, ,as Tia Eunice, longe de magoar-se, observou:
-Tolinho! Por que se acovardar? Não tema.
Tanta serenidade infundiu-me confiança. Contudo, os gritos que eu ouvia perturbavam-me o equilíbrio. Por que motivo escutava semelhantes vozes da mamãe, ali, onde não tinha razão de ser? Imenso mal-estar apoderou-se de mim. Todas as dores, que eu sentia, anteriormente, regressaram ao meu corpo.
Comecei a chorar, convulsivamente.
Tia Eunice, todavia,compreendeu tudo e, dando mostras de saber o que se passava em meu íntimo, acariciou-me, dizendo:
Não se assuste, meu filhinho. As vozes que ouve são realmente da mamãe, que ainda não pode compreender a vida. Você ainda se encontra ligado a ela por vigorosos laços de amor, cheio de apego desvairado e violento. Tenha calma e procure distrair-se.
Quis obedecer à ordem afetuosa, mas não pude. Aqueles apelos que me pareciam chegar de muito longe e minhas ânsia de rever a mamãe querida eram demasiado fortes para que me sentisse libertado num minuto.
Oh! Mas era horrível! Os gritos maternos faziam-se mais altos e mais fortes, dentro de mim, à medida que eu cedia ao desejo de tudo recordar. E, com isso, voltaram-se todos os sofrimentos, um a um: a falta de ar.
Tive a idéia de que recomeçava também minha longa e dolorosa agonia.
Tia Eunice exortou-me a ser forte e pensar na Bondade Divina, de modo a vencer as pesadas impressões do momento, mas debalde.
Após banhar-me a fronte em água fresca, apanhada em vaso próximo, acentuou, carinhosamente:
-Não tenha receio. Temos igualmente devorados médicos por aqui e já mandamos buscar um facultativo para atender-nos.
Aflito e desalentado, comecei a esperar.

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CHICO XAVIER POR NEIO LÚCIO

quinta-feira, 20 de outubro de 2011


DESPERTANDO

Cansado, porém, de interrogações interiores a se repetirem sem resposta, rendi-me aos carinhos de nossa tia e passei à inconsciência completa.
Quanto tempo gastei, nesse sono pesado, sem lembranças?
Não conseguiria responder. Sei somente que despertei, assustado, sem atinar com a situação.
Encontrava-me sozinho, encerrado numa câmara muito limpa e inundada de luz.
A solidão infundia-me repentina tristeza; entretanto, semelhante impressão era atenuada pela janela aberta, dando passagem a jorros de intensa luz.
As paredes mostravam pinturas alegres; eu porém, perguntava a mim mesmo se não fora transportado para algum hospital.
Ao longe, através da janela de vastas proporções, via a paisagem desdobrar-se...
O céu azul-radioso parecia mandar-me brisa suave e refrigerante.
Examinei, atenciosamente, em torno. O mobiliário era muito diverso.
Pelas poltronas acolhedoras e divãs convidativos, concluí que a sala era exclusivamente consagrada ao repouso.
Reparei em mim próprio, surpreendido. Teria passado a difteria? O Doutor Martinho conseguira finalmente curar-me? Minha garganta não doía mais. Não fosse afranqueza em que me achava, quase poderia levantar-me e ensaiar alguns passos.
Toquei meus cabelos e meus pés.
Que ocorrência me levara a semelhante modificação? Estaria, porventura em casa? Aquele compartimento, porém, me era totalmente desconhecido.
Recordava os últimos quadros que haviam precedido meu grande sono.
Fortemente admirado, recordava-me de suas mínimas particularidades.
E mamãe? Por que não aparecia? onde estava, sem trazer-me o abraço carinhoso de felicitações pela convalescença? Relembrando-lhe a ternura das últimas horas de meu corpo terrestre, experimentei funda saudade, com infinito desejo de chorar. Somente então observei que passara longas horas sem dizer coisa alguma. Minha garganta estaria em condições de auxiliar-me? Tentei a prova egritei:
-Mamãe! Mamãe!
Logo após uma voz lamentosa ressoou dentro de mim. Bem notei que não registrava com os ouvidos. Parecia nascer de meu próprio coração, dilacerando-o. Era bem a voz de nossa mãezinha, acenando com acento angustioso:
-Carlos! Carlos!... meu filho, volta, volta!...não me abandones!...
Antes que se pudesse refletir sobre a nova situação, abriu-se uma porta próxima, dando passagem à tia Eunice, que aproximou-se de mim, sorridente, e, sentando-se ao meu lado, disse-me, na perfeita compreensão do que me ocorria: se assuste, Carlinhos! Você está presentemente entre nós.

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CHICO XAVIER POR NEIO LÚCIO

quarta-feira, 19 de outubro de 2011


A GRANDE VIAGEM

Ah! Dirceu, não poderia contar-lhe o que então se passou.
O sono sem sonhos durou por apenas algumas poucas horas, porque estranho
pesadelo passou a dominar-me inteiramente.
Parecia-me vaguear numa atmosfera obscura e indefinível.
Sentia que mamãe se debruçava sobre mim, pronunciando meu nome,
angustiadamente. Observava-lhe as mãos ansiosas, tateando-me o rosto e os cabelos.
Ouvia-lhe os gritos de dor, mas debalde procurava acordar e tomar conta de mim próprio.
Sofri muito em semelhantes momentos de incerteza e aflição.
Valeu-me tia Eunice, que me amparava cuidadosamente.
Pouco a pouco, ao mesmo tempo em que me sentia enlaçado nos chamamentos de mamãe, tive a idéia de que uma força superior me arrastava da cama, devagarinho.
Compreendi que me encontrava agarrado a substâncias pegajosas, como o
passarinho preso ao visgo. Notei, todavia, que alguém me libertava, despojando-me de um fardo, como acontece ao desfazer-nos da roupa comum...
Desde então... apesar de prosseguir na mesma atmosferade sonho, não mais
senti as mãos de mamãe, mas somente as de tia Eunice, que me aconchegou ao coração.
-“Vamos, Carlinhos!” –ouvi-a, distintamente.
Retiramo-nos para a porta de saída. Nossa tia pareceu-me bastante interessada
em afastar-se comigo, apressadamente.
Lá fora, o luar deslumbrava. Respirei o ar perfumado e fresco da noite, como
quem recebia verdadeira benção celestial.
Haviam decorrido tantos dias que me esforçava sem melhoras!
Tia Eunice carregava-me nos braços, carinhosamente, como se eu fora pequenina criança. Contudo, embora não conseguisse coordenar meus pensamentos com exatidão, espantei-me ao reconhecer que nos afastávamos do solo.
Embalado pela caricia do vento brando, não sabia que mais admirar –se a
melhora que sobreviera, de súbito,se a beleza da noite, embalsamada de aroma e maravilhosa de luz.
Meu contentamento não tinha limites. Estava fraco, vencido, incapaz de falar
alguma coisa, mas sentia-me transportado da Terra para uma desta nas estrelas.
De quando em quando, Tia Eunice pousava em mim os olhos doces e amigos e eu sorria em resposta, contente e agradecido pela benção de respirar sem cansaço e sem dor.
Os caminhos aéreos, repletos de luar, surpreendiam-me os olhos espantados.
Então, as impressões de sonho foram mais nítidas em mim.
Estava certo de que tudo não passava de fantasia e de que tornaria a casa, despertando, novamente, no leito habitual.despertando, novamente, no leito.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011


O SONO BOM

Surpreendido, notava que nenhum de vocês fazia caso da presença de tia Eunice, dando-me a impressão de que não na viam; e até o doutor Martinho, que lhe ficava defronte, mostrava absoluta indiferença; Ela, contudo, não estava menos satisfeita por isso.
Após acomodar-se à cabeceira, nossa tia posou a mão macia sobre a minha
cabeça e grande alívio me banhou o coração.
Tive a idéia de que raios de sol me penetravam o corpo em desalento.
Não pude conversar como desejava, mas não consegui pensar mais claramente.
Desviei a atenção que concentrava na garganta dorida e raciocinei sem maior aflição.
Estaria menos mal? A morte permaneceria rondando-me o leito? Que conteceria
nos próximos minutos?
Quis endereçar algumas perguntasà Tia Eunice, explicando-lhe, ao mesmo
tempo, que sentia imenso receio de morrer; todavia, meus lábios estavam quase
imóveis.
Ela, porém, segundo minha observação, percebeu, de pronto, o que me passava pelo cérebro.
Sorriu-me, bondosamente, e disse:
-Você, na verdade, acredita que alguém possa desaparecer para sempre? Não creia em semelhante ilusão... É preciso tranquilizar-se. Afinal de contas, os dias de dor e as noites de insônia têm sido numerosos.
-Sorriu, com ternura mais acentuada, inspirando-me profunda confiança, e tornou a dizer:
-É necessário que você durma sossegado, sem qualquer inquietação.
E como eu lhe ouvisse os conselhos, acrescentou:
-Descanse, Carlinhos! Ceda, sem temor, à influência do sono. Velarei por você...
Em seguida, passou a mão direita, de leve e repetidamente, sobre a minha cheia de feridas. A transformação que experimentei foi completa. Acreditei que me estivesse aplicando deliciosa compressa de alívio. As dores que me atormentavam, havia tanto tempo, cederam, pouco a pouco.
Indizível tranquilidade dominou-me, por fim. Entreguei-me, confiante, aos carinhos de Tia Eunice, como me abandonava, comumente, à ternura de mamãe.
Logo após, a mão dela, carinhosa e boa, afagou-me o roto banhado de suor, detendo-se docemente sobre minhas pálpebras...
Tentei, ainda, olhar para você; todavia, não pude.
A visitante inesperada cerrou-se os olhos, com brandura, e acentuou:
-Durma, Carlinhos! Você está cansado...
Nada respondi com a boca; entretanto, concordei mentalmente, agradecido e reconfortado.
Tia Eunice observou-me a silenciosa de satisfação, porque, nesse instante, curvou-se e beijou-me.
Recordei-me, então, do beijo de mamãe, cada noite, e, em vista do alívio que eu sentia, entreguei-me finalmente ao sono bom.

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CHICO XAVIER POR NEIO LÚCIO

domingo, 16 de outubro de 2011


TIA EUNICE

Em vão procurava no rosto de vocês uma expressão de tranqüilidade e bom ânimo.
Daria tudo para que sorrissem, desfazendo-me o pavor. Entretanto, estavam todos consternados, chorosos...
Esperei que o Doutor Martinho me encorajasse, assegurando que tudo se resumia numa crise passageira, mas nosso, bondoso médico examinava-me o pulso, sem disfarçar a tristeza que lhe dominava a alma.
Em razão disso, o medo de morrer cresceu muito mais fortemente em meu espírito.
Quando tudo me parecia irremediável, eis que alguma coisa sucedeu, chamando-me a atenção. Leve ruído despertara-me a curiosidade.
Desviei meu olhar para a parta de entrada e reparei que aí surgiam, de maneira
inexplicável, delicados flocos de substância fosforescente.
Esses pontos de luz como que formava fino manto de gaze tenuíssima, sob o qual tive a impressão de que alguém se movimentava...
Seguia a novidade, com enorme espanto, quando apareceu, rasgando a leve cortina, uma jovem de belo porte que não tive dificuldade em reconhecer.
Era a mesma do grande retrato que mamãe conservava em casa. Era a tia Eunice, a irmãzinha dela, que morreu quando nós dois éramos pequeninos.
Trajava um vestido de cor verde-claro,enfeitado de rendas luminosas. Cercava-se, principalmente ao longo do tórax e da cabeça, de lindos clarões de luz azulada, como se trouxesse uma lâmpada oculta. Seus olhos escuros irradiavam simpatia e bondade sem limites.
Tia Eunice entrou pelo quarto a dentro com grande surpresa para mim, abraçou mamãe, sem que mamãe a visse, e, depois, sentou-se ao meu lado, dizendo:
-Então, Carlinhos, você é tão valente, está medroso agora?
Se fosse noutra ocasião, penso que não me comportaria bem, porque sempre ouvira dizer que os mortos são fantasmas e nossa tia já era morta. Achava-me, porém, tão aflito que experimentei grande consolação com as palavras encorajadoras que me dirigia.
Necessitava de alguém que me reanimasse.
Reparava o nervosismo do papai, as lágrimasda mamãe, a tristeza e o abatimento doutor Martinho, ao meu lado, e concluí que as boas disposições dela eram providenciais para mim.
Em verdade, nos bons tempos de saúde, ouvira estranhas histórias de “assombrações do outro mundo”, que me deixavam impressionado, sem sono, mas tia Eunice não podia inspirar medo a ninguém. Estava linda e risonha, enchendo-me de confiança e otimismo.
Senti-me, pois, reanimado, embora reconhecendo a desagradável rigidez de meu corpo, que não conseguia mover, nem de leve.

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CHICO XAVIER POR NEIO LÚCIO

sábado, 15 de outubro de 2011


IMPRESSÕES DO ÚLTIMO DIA TERRESTRE

Neio Lúcio

Meu caro Dirceu:
Escrevo-lhe esta carta para dizer que não morri.Jamais supus me fosse possível
endereçar notícias a você, depois de afastar-me do corpo terrestre. Algumas vezes, vira o enterro de crianças e pessoas grandes, da janela grande de nosso quarto, quando observávamos, em silêncio, o carro triste, enfeitado de flora, conduzindo alguém que nunca voltava...
Recorda-se da morte de Osório, o nosso colega do grupo escolar? Nunca me esqueci do quadro enternecedor. Dona Margarida, a mãezinha em lágrimas, conduziu-nos a vê-lo. Osório, brincalhão e bondoso, estava mudo e gelado. Parecia dormir, imóvel sob
um montão de rosas e saudades.
Quando ouvi dizer que ele jamais voltaria, meu coração bateu forte e empalideci.
Nosso velho Tomás, o porteiro da escola que assistia à cena, percebeu o que se
passava e afastou-me depressa.
Nesse dia, não comi e passei a noite assustado. Atormentei o papai com toda a espécie de perguntas sobre a morte e arrepiava-me todo, recebendo-lhe as respostas.
Por fim, ele reconheceu a minha inquietação e aconselhou-me a evitar o assunto.
Muito tempo passou, mas a experiência ficou guardada no meu coração.
Foi por isso, talvez, que fiquei, durante o período de minha enfermidade, impaciente e aflito.
E, para falar francamente a você, tive medo, muito medo, ao perceber que tudo ia
acabar-se, pois sempre ouviria dizer que a morte do corpo é o fim de todas as coisas.
Agora, porém, posso afirmar que isso não é verdade.
Lembra-se do último dia que passei em casa?
Mamãe chorava tanto!...
Papai, muito sério, ia de um lado para outro, na sala contígua ao nosso quarto.
O Doutor Martinho, nosso bom amigo, segurava-me as mãos, e você, Dirceu, sentado na poltrona de vovó, olhava-me ansioso e entristecido.
Quis falar, mas não pude. Estava cansado sem saber o motivo. Faltava-me o ar, como se eu fosse um peixe fora d’água. Esforçava-me para dizer alguma coisa, pelo menos para tranqüilizar a mamãe; entretanto, havia um peso enorme, oprimindo-me a garganta e a boca.
Foi então que parei meu olhar em seus olhos e chorei muito, com receio de ficar
mudo e gelado como o Osório, e partir para nunca mais regressar.
Não consegui mover os lábios, mas, em pensamento, rezei as orações que mamãe me
ensinara. Lembrei-me de Deus e esperei o sono com indizível angústia...
Queria dormir, dormir muito, no entanto, era tão grande o meu temor de dormir
sem acordar, que, se eu pudesse, teria gritado intensamente, com toda a força de meus
pulmões, pedindo ao Doutor Martinho que não me deixasse morrer.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011


MENSAGEM

Carlos é um rapazinho de seus catorze anos, que a morte arrebatou muito cedo à
esfera física.
Recentemente internado em nossos cursos de reajustamento psíquico e
preparação espiritual, revelou, desde há primeira hora, notável aplicação ao estudo e ao esforço renovador.
Dentre as preocupações mais fortes que lhe caracterizam o espírito, destaca-seo
propósito de algo enviar ao irmão de nome Dirceu, inesquecido e afetuoso companheiro do teto familiar. Para isso, escreveu a mensagem que oferecemos ao jovem leitor, através da qual nosso dedicado amiguinho buscou descrever as paisagens e as emoções novas que experimentou logo após a morte do corpo físico.
È um trabalho simples, em que o coração juvenil fala mais alto que o raciocínio
propriamente humano e que, por isso mesmo, não deveria circunscrever-se ao campo
exclusivo do destinatário.
Por semelhante motivo, dedicamos estas páginas singelas aos nossos irmãos mais
jovens. Que eles possam colher nesta mensagem carinhosa e fraterna os conhecimentos
valiosos do presente, para as construções do futuro, são os nossos votos.

Neio Lúcio
Pedro Leopoldo, 27 de julho de 1946.

LIVRO MENSAGENS DE UM PEQUENO MORTO
CHICO XAVIER POR NEIO LÚCIO

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

PERANTE JESUS

Em todos os instantes, reconhecer-se na presença invisível de Jesus, que nos
ampara nas obras do Bem Eterno.
Aceitou-nos o Cristo de Deus desde os primórdios da Terra.
Nos menores cometimentos, identificar a Vontade Superior, promovendo em toda parte a segurança e a felicidade das criaturas.
Cada coração humano é uma peça de luz potencial e Jesus é o Sublime Artífice.
Lembrar-se de que o Senhor trabalha por nós sem descanso.
Repouso indébito, deserção do dever.
Sem exclusão de hora ou local, precaver-se contra o reproche e a irreverência para com a Divina Orientação.
O acatamento é prece silenciosa.
Negar-se a interpretar o Eterno Amigo por vulgar revolucionário terreno.
Reconheçamo-lo como a Luz do Mundo.
Renunciar às comemorações natalinas que traduzam excessos de qualquer ordem, preferindo a alegria da ajuda fraterna aos irmãos menos felizes, como louvor ideal ao Sublime Natalício.
Os verdadeiros amigos do Cristo reverenciam-no em Espírito.
Identificar a posição que lhe cabe em relação a Jesus, o Emissário de Deus,
evitando confrontos inaceitáveis.
O homem que exige seja o Cristo igual a ele, pretende, vaidosamente, nivelar-se
com o Cristo.
Em todas as circunstâncias, eleger, no Senhor Jesus, o Mestre invariável de cada
dia.
Somos o rebanho, Jesus é o Divino Pastor.
“E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens” — Paulo. (COLOSSENSES, 3:23.)

LIVRO CONDUTA ESPÍRITA
CHICO XAVIER POR ANDRÉ LUIZ

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

PERANTE A PRÓPRIA DOUTRINA

Apagar as discussões estéreis, esquivando-se à criação de embaraços que prejudiquem o desenvolvimento sadio da obra doutrinária.
O espírito da verdadeira fraternidade funde todas as divergências.
Não restringir a prática doutrinária exclusivamente ao lar, buscando contribuir, de
igual modo, na seara espírita de expressão social, auxiliando ainda a criação e a
manutenção de núcleos doutrinários no ambiente rural.
Todos estamos juntos nos débitos coletivos.
Orar por aqueles que não souberem ou não puderem respeitar a santidade dos
postulados espíritas, furtando-se de apreciar-lhes a conduta menos feliz, para não favorecer a incursão da sombra.
O comentário em torno do mal, ainda e sempre, é o mal a multiplicar-se.
Desapegar-se da crença cega, exercitando o raciocínio nos princípios doutrinários,
para não estagnar-se nas trevas do fanatismo.
Discernimento não é simples adorno.
Antes de criticar as instituições espíritas que julgue deficientes, contribuir, em
pessoa, para que se ergam a nível mais elevado.
Quem ajuda, aprecia com mais segurança.
Auxiliar as organizações espiritualistas ou as correntes filosóficas que ainda não
recebem orientação genuinamente espírita, compreendendo, porém, que a sua tarefa
pessoal já está definida nas edificações da Doutrina que abraça.
O fruto não amadurece antes do tempo.
Recordar a realidade de que o Espiritismo não tem chefes humanos e de que nenhum dos seareiros do seu campo de multiformes atividades é imprescindível no cenário
de suas realizações.
Cristo, nosso Divino Orientador, não vive ausente.
“Que fazeis de especial?” — Jesus. (MATEUS, 5:47.)

LIVRO CONDUTA ESPÍRITA
CHICO XAVIER POR ANDRÉ LUIZ

terça-feira, 11 de outubro de 2011

PERANTE A CODIFICAÇÃO KARDEQUIANA

Recordemos constantemente os ensinos insubstituíveis e sempre momentosos que
iluminam as páginas da Codificação Kardequiana, de onde extratamos alguns breves
tópicos:

“Assim como o Cristo disse: “Não vim destruir a lei, porém, cumpri-la”, também o
Espiritismo diz: “Não venho destruir a lei cristã, mas dar-lhe execução." Nada ensina em contrário ao que ensinou o Cristo; mas desenvolve, completa e explica, em termos claros e para toda a gente, o que foi dito apenas sob forma alegórica.”
(O Evangelho segundo o Espiritismo)

“Espíritas! Amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo. No
Cristianismo se encontram todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram.” (O Evangelho segundo o Espiritismo)

“Os Espíritos superiores usam constantemente de linguagem digna, nobre, repassada da mais alta moralidade, escoimada de qualquer paixão inferior; a mais pura sabedoria lhes transparece dos conselhos, que objetivam sempre o nosso melhoramento e o bem da Humanidade.” (O Livro dos Espíritos)

“O homem não conhece os atos que praticou em suas existências pretéritas, mas
pode sempre saber qual o gênero das faltas de que se tornou culpado e qual o cunho
predominante do seu caráter. Bastará então julgar do que foi, não pelo que é, sim pelas suas tendências.” (O Livro dos Espíritos)

“A lei de Deus é a mesma para todos; porém, o mal depende principalmente da
vontade que se tenha de o praticar. O bem é sempre o bem e o mal sempre o mal, qualquer que seja a posição do homem. Diferença só há quanto ao grau de responsabilidade.” (O Livro dos Espíritos)

“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços
que emprega para domar suas inclinações infelizes.” (O Evangelho segundo o Espiritismo)

“Não podendo amar a Deus sem praticar a caridade para com o próximo, todos os
deveres do homem se resumem nesta máxima: Fora da caridade não há salvação.”
(O Evangelho segundo o Espiritismo)

“Medita estas coisas; ocupa-te nelas para que o teu aproveitamento seja manifesto a todos.” — Paulo.
(I TIMÓTEO, 4:15.)

LIVRO CONDUTA ESPÍRITA
CHICO XAVIER POR ANDRÉ LUIZ

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

PERANTE A ARTE

Colaborar na cristianização da arte, sempre que se lhe apresentar ocasião.
A arte deve ser o Belo criando o Bom.
Repelir, sem crítica azeda, as expressões artísticas torturadas que exaltem a
animalidade ou a extravagância.
O trabalho artístico que trai a Natureza nega a si próprio.
Burilar incansavelmente as obras artísticas de qualquer gênero.
Melhoria buscada, perfeição entrevista.
Preferir as composições artísticas de feitura espírita integral, preservando-se a
pureza doutrinária.
A arte enobrecida estende o poder do amor.
Examinar com antecedência as apresentações artísticas para as reuniões festivas
nos arraiais espíritas, dosando-as e localizando-as segundo as condições das assembléias a que se destinem.
A apresentação artística é como o ensinamento: deve observar condições e lugar.
“E a paz de Deus, que excede todo entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus.” — Paulo. (FILIPENSES, 4:7.)

LIVRO CONDUTA ESPÍRITA
CHICO XAVIER POR ANDRÉ LUIZ

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

PERANTE A CIÊNCIA

Colaborar com as iniciativas que enobreçam as pesquisas e os estudos da
inteligência sem propósitos destrutivos.
Toda ciência que objetiva o progresso humano vem do Socorro Celestial.
Exaltar a contribuição inestimável da medicina terrestre em sua marcha progressiva para a suprema redenção da saúde humana.
O médico, consciente ou inconscientemente, está ligado ao Divino Médico.
Sopitar quaisquer impulsos inamistosos para com os representantes da ciência,
sobre temas doutrinários ou problemas assistenciais.
Na prestação de serviço, temos o exemplo renovador.
Quando chamado a responsabilidades no setor científico, superar limitações e
preconceitos, sem perder a simplicidade e a modéstia.
Não há sabedoria real sem humildade vivida.
Desaprovar os procedimentos que, embora rotulados de científicos, venham de
encontro aos ensinamentos espíritas.
À ciência humana sobrepõe-se a Ciência Divina.
“A ciência incha, mas o amor edifica.” — Paulo. (I CORÍNTIOS, 8:1.)

LIVRO CONDUTA ESPÍRITA
CHICO XAVIER POR ANDRÉ LUIZ

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

PERANTE A INSTRUÇÃO

Em todas as circunstâncias, lembrar-se de que o Espiritismo expressa, antes de
tudo, obra de educação, integrando a alma humana nos padrões do Divino Mestre.
Cultura atendida, progresso mais fácil.
Solidarizar-se com os empreendimentos que visem a alfabetização de crianças,
jovens e adultos.
O alfabeto é o primeiro degrau de ascensão à cultura.
Pugnar pela laicidade absoluta do ensino mantido oficialmente, esclarecendo os
estudantes, sejam crianças ou jovens, sempre que necessário, quanto à conveniência de se absterem, cordialmente, quando possível, das aulas e solenidades de ensino religioso nos institutos de instrução que veiculem noções religiosas contrárias à Doutrina do Espiritismo.
O lar e o templo são as escolas da fé.
Aperfeiçoar os métodos de ministração do ensino doutrinário à mente infantil,
buscando nesse particular os recursos didáticos suscetíveis de reafirmarem a seriedade e o critério seguro de aproveitamento na elaboração de programas.
Na academia do Evangelho, todos somos alunos.
Renovar as matérias tratadas nos programas de evangelização, segundo orientações atualizadas.
O Espiritismo progride sempre.
Dedicar atenção constante à melhoria dos processos pedagógicos, no sentido de
oferecer aos pequeninos viajores recém-chegados da Espiritualidade a rememoração necessária daquilo que aprenderam e dos compromissos que assumiram antes do processo reencarnatório.
Quem aprende pode ensinar e quem ensina aperfeiçoa o aprendizado.
Dispor o problema da educação com Jesus, acima dos interesses de sociedades e
núcleos, unificando, sempre que possível, os trabalhos esparsos, imprimindo maior relevo às obras de evangelização, no preparo essencial do futuro.
A educação da alma é a alma da educação.
“Portanto, ide e ensinai...” — Jesus. (MATEUS, 28:19.)

LIVRO CONDUTA ESPÍRITA
CHICO XAVIER POR ANDRÉ LUIZ

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

PERANTE O LIVRO

Consagrar diariamente alguns minutos à leitura de obras edificantes, esquecendo os
livros de natureza inferior, e preferindo, acima de tudo, os que, por alimento da própria alma, versem temas fundamentais da Doutrina Espírita.
Luz ausente, treva presente.
Digerir primeiramente as obras fundamentais do Espiritismo, para entrar em seguida
nos setores práticos, em particular no que diga respeito à mediunidade.
Teoria meditada, ação segura.
Dentro do tempo de que disponha, conhecer as obras reunidas na biblioteca do
templo ou núcleo doutrinário a que pertença.
Livro lido, idéia renovada.
Apreciar com indulgência as obras de combate ao Espiritismo, compreendendo-lhes
a significação, calando defesas precipitadas ou apaixonadas, para recolher, com elas, advertências e avisos destinados ao aperfeiçoamento da obra que lhe compete.
Vale-se o bem do mal, para fazer-se maior.
Oferecer obras doutrinárias aos amigos, inclusive as que jazem mofando sem maior
aplicação dentro de casa, escolhendo o gênero e o tipo de literatura que lhes possa
oferecer instrução e consolo.
Livro nobre, caminho para a ascensão.
Disciplinar-se na leitura, no que concerne a horários e anotações, melhorando por si
mesmo o próprio aproveitamento, não se cansando de repetir estudos para fixar o
aprendizado.
Aprende mais, quem estuda melhor.
Sem exclusão de autor ou de tema versado, analisar minuciosamente as obras que
venha a ler, para não sedimentar no próprio íntimo os tóxicos intelectuais de falsos
conceitos, tanto quanto as absurdidades literárias em torno das quais giram as
conversações enfermiças ou sem proveito.
Os bons e os maus pensamentos podem nascer de composições do mesmo alfabeto.
Divulgar, por todos os meios lícitos, os livros que esclareçam os postulados espíritas,
prestigiando as obras santificantes que objetivam o ingresso da Humanidade no roteiro da redenção com Jesus.
A biblioteca espírita é viveiro de luz.
“Examinai tudo. Retende o bem.” — Paulo. (I TESSALONICENSES, 5:21.)

LIVRO CONDUTA ESPÍRITA
CHICO XAVIER POR ANDRÉ LUIZ

terça-feira, 4 de outubro de 2011

PERANTE AS REVELAÇÕES DO PASSADO E DO FUTURO

Observar o maior critério em tudo o que se refira a revelações do pretérito, fugindo ao reerguimento infrutífero de cadáveres que devem prosseguir sepultados na cinza do tempo.
O passado é a causa viva, mas não soluciona o presente.
Convencer-se de que, por enquanto, ninguém se inteirará de acontecimentos
anteriores à encarnação atual, por motivos banais ou frívolos.
A Sabedoria Superior, em revelando o passado de alguém, cogita do bem de todos.
Afugentar preocupações com existências transcorridas, de vez que qualquer
informação nesse sentido deve ser espontânea por parte do Plano Superior, que julga acertadamente quanto ao que mais convém à responsabilidade.
O que passou está gravado.
Tranqüilizar-se quanto a sucessos porvindouros, analisando com lógica rigorosa
todos os estudos referentes a predições.
A profecia real tem sinais divinos.
Jamais impressionar-se com prognósticos astrológicos desfavoráveis, na certeza de que, se as influências inclinam, a nossa vontade é força determinante.
Temos conosco a vida que procuramos.
Guardar em mente que muitas almas regressam à Vida Maior carregando consigo enormes frustrações pelos equívocos a que se afeiçoaram, por terem aceitado revelações destituídas de crédito.
Somos herdeiros de nossos próprios atos.
“Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas me convêm.” — Paulo. (I
CORÍNTIOS, 6:12.)

LIVRO CONDUTA ESPÍRITA
CHICO XAVIER POR ANDRÉ LUIZ

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

PERANTE OS FATOS MOMENTOSOS

Em tempo algum empolgar-se por emoções desordenadas ante ocorrências que apaixonem a opinião pública, como, por exemplo, delitos, catástrofes, epidemias, fenômenos geológicos e outros quaisquer.
Acalmar-se é acalmar os outros.
Nas conversações e nos comentários acerca de notícias terrificantes, abster-se de
sensacionalismo.
A caridade emudece o verbo em desvario.
Guardar atitude ponderada, à face de acontecimentos considerados escandalosos,
justapondo a influência do bem ao assédio do mal.
A palavra cruel aumenta a força do crime.
Resguardar-se no abrigo da prece em todos os transes aflitivos da existência.
As provações gravitam na esfera da Justiça Divina.
Aceitar nas maiores como nas menores decepções da vida humana, por mais estranhas ou desconcertantes que sejam, a manifestação dos Desígnios Superiores atuando em favor do aprimoramento espiritual.
Deus não erra.
Ainda mesmo com sacrifício, entre acidentes inesperados que lhe firam as esperanças, jamais desistir da construção do bem que lhe cumpre realizar.
Cada Espírito possui conta própria na Justiça Perfeita.
“Vede que ninguém dê a outrem mal por mal, mas segui sempre o bem, tanto uns para com os outros, como para com todos.” — Paulo. (I TESSALONICENSES, 5:15.)

LIVRO CONDUTA ESPÍRITA
CHICO XAVIER POR ANDRÉ LUIZ

sábado, 1 de outubro de 2011

PERANTE O TEMPO

Em nenhuma condição, malbaratar o tempo com polêmicas e conversações estéreis, ocupações fantasistas e demasiado divertimento.
Desperdiçar tempo é esbanjar patrimônio divino.
Autodisciplinar-se em todos os cometimentos a que se proponha, revestindo-se do necessário discernimento.
“Fazer muito” nem sempre traduz “fazer bem”.
Fugir de chorar o passado, esforçando-se por reparar toda ação menos correta.
O passado é a raiz do presente, mas o presente é a raiz do futuro.
Afastar aflições descabidas com referência ao porvir, executando honestamente os deveres que o mundo lhe designa no minuto que passa.
O “amanhã” germinará das sementes do “hoje”.
Quanto possível, plasmar as resoluções do bem no momento em que surjam, de vez que, posteriormente, o campo da experiência pode modificar-se inteiramente.
Ajuda menos, quem tarde serve.
Ainda que assoberbado de realizações e tarefas, jamais descurar o bem que possa fazer em favor dos outros.
Quando procuramos o bem, o próprio bem nos ensina a encontrar o “tempo de auxiliar”.
“Ainda não é chegado o meu tempo, mas o vosso tempo sempre está pronto.” — Jesus.
(JOÃO, 7:6.)

LIVRO CONDUTA ESPÍRITA
CHICO XAVIER POR ANDRÉ LUIZ