sexta-feira, 5 de novembro de 2010

EM REVERÊNCIA

Ei-la cansada, com o peito ofegante e o andar em desalinho, que passa... O tempo sulcou-lhe a face, apergaminhando-a, deixando em cada ruga um sofrimento, uma decepção, uma amargura. Quem a vê não é capaz de avaliar as lutas que travou com estoicismo demorado. Talvez tenha vendido o corpo para que o pão mmguado não faltasse totalmente em casa, ou a gôta de leite nutriente não fôsse negado ao filho, que sustentou com abnegação e devotamento. Possivelmente, quando percebeu a presença do gérmen da vida movimentando-se na intimidade do ventre e cantou a notícia aos ouvidos do amor que a fecundou, foi convidada a extirpá-lo e preferiu a rota da soledade, do abandono, ao infanticídio... Quem sabe os demorados travos de amargura que lhe tisnaram os lábios e os silêncios que foram sufocados no coração, a fim de que, misturando as suas com as lágrimas do filho, não o deixasse sofrer em demasia? Há, sim, muitas mães que se transformaram em hienas desapiedadas. Outras se fizeram indiferentes ao sublime cometimento maternal, deixando os filhos a êsmo. Muitas, incontáveis, fizeram-no vitimadas pela miséria, pela ignorância, pelo desespêro... E são, no entanto, exceção.

FLORAÇÕES EVANGÉLICAS
DIVALDO FRANCO POR JOANNA DE ÂNGELIS

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